Sudão: ocupação de laboratório por forças em conflito pode causar surto de doenças graves
No Sudão, uma das partes em guerra invadiu e transformou em instalação militar um laboratório que armazena agentes causadores de doenças como sarampo e cólera. Os técnicos que ali trabalhavam foram expulsos. Com isso, o risco de que esses organismos capazes de causar doenças em humanos e outros hospedeiros sejam liberados é enorme, ocasionando um problema sanitário de grandes proporções que pode afetar toda a região. O alerta foi dado por Nima Saeed Abid, representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) naquele país, em uma coletiva de imprensa realizada ontem, 25 de abril, durante reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, Suíça, para avaliar a situação do conflito.
Grupos armados ocuparam hospitais
Na reunião, o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres disse que as notícias vindas de Cartum, a capital do Sudão, traçam um quadro arrasador e exigiu o fim imediato da violência. Desde 15 de abril, quando tropas das Forças Armadas Sudanesas e paramilitares da Força de Apoio Rápido (RSF) começaram a se enfrentar nas ruas de Cartum e outras partes da nação africana, pelo menos 427 pessoas foram mortas (inclusive quatro trabalhadores da ONU) e mais de 3.700 estão feridas. Os sudaneses estão fugindo em massa para países vizinhos, como Chade, Egito e Sudão do Sul. A maioria dos que deixam tudo para trás é dos estados do Nilo Azul e Kordofan do Norte, além de regiões na província de Darfur.
.Segundo Guterres, as pessoas estão presas sem poder sair de casa, aterrorizadas e com pouca comida, remédios e combustíveis. As instalações de saúde estão perto de desabar e vários hospitais estão sendo usados pelos grupos armados.
Conflito pode atingir região do Sahel
Guterres pediu o fim imediato dos combates e disse que não se pode imaginar uma guerra prolongada. O secretário-geral lembrou ao Conselho de Segurança que todos os sete países que fazem fronteira com o Sudão já vivenciaram conflitos ou tiveram suas próprias revoltas populares na última década.
O Sudão é ainda uma porta de entrada para a região do Sahel, que experimenta insegurança e instabilidade política além de atravessar uma catástrofe humanitária que só pioraria com o novo confronto.
O enviado especial da ONU ao Sudão, Volker Perthes, contou por videoconferência que o cessar-fogo de 72 horas está sendo mantido, apesar de alguns incidentes de tiroteio.
Violência sexual e saques
Perthes disse que casas de sudaneses, de trabalhadores da ONU e diplomatas foram atacadas e saqueadas. Há relatos de casos de violência sexual contra mulheres.
A instabilidade política no Sudão se agravou em 2019, quando o então presidente Omar al-Bashir foi deposto. Logo depois, foi formado um governo civil e militar, derrubado em 2021 por um golpe comandado pelos generais Abdel Fattah al-Burhan e Mohamed Hamdan Dagalo “Hemedti”, que hoje lutam entre si.
Avanços para o desenvolvimento comprometidos
Para Guterres, o atual conflito não está somente colocando o futuro do país em risco, mas também acionando um fusível que pode detonar pelas fronteiras e atrasar avanços no desenvolvimento, por décadas.
Neste fim de semana, a ONU reconfigurou sua presença no país, realocando vários funcionários para outras nações.
O representante especial de Guterres no Sudão, Volker Perthes, permanece em Cartum. A ONU decidiu criar um centro no Porto Sudão para continuar o trabalho numa nação em que 33% da população precisam de ajuda para sobreviver.