Unesco vai treinar policiais para que protejam jornalistas e seu trabalho
Parceria com Associação Internacional de Polícia, IPA, criará curso on-line aberto a forças policiais de todo o mundo; agência diz que, em 2020, 65 países registraram forte aumento de violações da liberdade de imprensa em protestos. Nove entre 10 assassinatos de jornalistas permanecem sem punição.
Uma cooperação da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, com a Associação Internacional de Polícia (IPA) ajudará a proteger jornalistas e a liberdade de expressão em todo o mundo. A iniciativa inclui um treinamento pela internet sobre defesa da liberdade de imprensa e de expressão e proteção de profissionais da mídia.
Violações
O Curso Massivo Aberto On-line, Mooc na sigla em inglês, pode ser feito por forças policiais de qualquer parte do globo.
Segundo a Unesco, um estudo, divulgado em 2020, mostrou que, em pelo menos 65 países, havia um aumento acentuado de violações da liberdade de imprensa em protestos de rua.
Os relatos incluem assédio, intimidações, ataques, prisões e até assassinatos de jornalistas. Na maioria, os casos eram praticados por policiais e forças de segurança.
A agência da ONU acredita que a falta de treinamento sobre como manter a ordem e garantir aos profissionais da imprensa que façam o seu trabalho explica os abusos cometidos.
América Latina, África e Mundo Árabe
Até o momento, a Unesco já treinou 8,5 mil policiais em 17 países da América Latina, da África e da região árabe por meio de parcerias.
Com a iniciativa da Associação Internacional, este trabalho deverá chegar a 100 países com 372 mil agentes policiais.
A diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, lembrou que a polícia tem um papel fundamental na proteção dos jornalistas. Juntas, a polícia e as forças de segurança são o pilar da segurança de que esses profissionais precisam para fazer seu trabalho.
Assassinatos sem punição
Ela disse ainda que qualquer violação contra a liberdade de expressão tem de ser investigada e punida com base na lei.
A parceria também vai propiciar à Unesco expandir o seu programa global de proteção de profissionais da mídia e a luta contra a impunidade nos crimes contra jornalistas. Quase 90% dos assassinatos de jornalistas no mundo permanecem sem punição.
A agência da ONU acredita que uma transparência na comunicação com a imprensa também ajuda a melhor a percepção pública da imagem dos serviços policiais.
Alemanha
A secretária-geral da Associação Internacional da Polícia, May-Britt Ronnebro, disse que o curso é baseado no Manual de Treinamento da Unesco sobre Liberdade de Expressão e Ordem Pública.
Ela ressalta que os cursos poderão ser feitos por policiais, forças de segurança e agentes da lei, pessoal de preparação de emergência, cadetes de polícia e segurança, agentes de inteligência, pelotão de protestos, porta-vozes e investigadores.
A formação será preparada e ministrada pela unidade de treinamento e educação IBZ Castle Gimborn, da Associação, que fica no estado da Renânia do Norte Vestfália, na Alemanha.
A Unesco e a Associação Internacional da Polícia também querem combater a impunidade encorajando a investigação da morte de jornalistas.
Juízes
A Unesco já treina juízes em várias partes do mundo. Desde 2013, a agência da ONU ministrou cursos para 23 mil magistrados, agentes de Justiça e representantes da sociedade civil sobre o tema tendo como base os padrões internacionais.
O treinamento se fundamenta no Plano de Ação da ONU sobre Segurança de Jornalistas e a Questão da Impunidade.
O curso tem o apoio do Ministério de Relações Exteriores dos Países Baixos ou Holanda.
Imagem em destaque: Unsplash/Ricardo Arce.