Territórios Tomie Ohtake premia 10 iniciativas pedagógicas de escolas espalhadas pelo Brasil
Idealizado e coordenado pelo Instituto Tomie Ohtake, o 6º Prêmio Territórios Tomie Ohtake anuncia as 10 iniciativas pedagógicas selecionadas em sua segunda edição nacional. Nesta edição, foram inscritas 112 iniciativas pedagógicas, oriundas de 19 estados brasileiros. As propostas foram avaliadas por um júri composto por especialistas nos campos da educação, do social, da arte e da cultura, incluindo representantes das instituições organizadoras: Beatriz Goulart, Carol Tonetti, Gina Vieira, Natame Diniz, Paula Mendonça e Raiana Ribeiro. As 10 iniciativas contempladas nesta edição são:
Escola Estadual Dr. Jorge Lacerda, Joinville (SC)
A partir de uma conversa sobre o currículo escolar e os materiais didáticos, que apesar de alguns avanços ainda apresentam uma narrativa histórica eurocêntrica, branca, masculina e heteronormativa, a comunidade escolar chegou à pergunta norteadora: onde estão as mulheres pretas na história? Assim surgiu o projeto que culminou na exposição Pretas Empoderadas, realizada na Escola Dr. Jorge Lacerda, em Joinville (SC). Estudantes e professoras(es) pesquisaram histórias de mulheres de origem brasileira, africana e haitiana, uma vez que existe um número considerável de imigrantes haitianos na escola. Diante da grande quantidade de mulheres mapeadas, foi preciso realizar uma seleção para aprofundamento da pesquisa, pautada em critérios de interdisciplinaridade e representatividade, chegando a 26 mulheres homenageadas. Algumas delas, atuantes no território onde se localiza a escola, envolveram-se ativamente no projeto, como Ana Lúcia Martins, a primeira vereadora negra de Joinville, e Alessandra Bernardino, militante do movimento negro em Joinville. O projeto Pretas Empoderadas pode ser acompanhado pelo Instagram @escola.inclusiva.
Escola Municipal João Apolônio dos Santos Pádua, Paraty (RJ)
A cartilha Seu Joaci e o tempo, desenvolvida na Escola Municipal João Apolônio dos Santos Pádua, em Paraty (RJ), em parceria com o marinheiro, caiçara e barqueiro Joaci Reis, responsável pelo transporte de estudantes, é o resultado da pesquisa de etnometeorologia – a previsão do tempo popular – sob o ponto de vista do pescador ou marinheiro nativo da zona costeira de Paraty. Os conhecimentos da rosa dos ventos, estudo das marés, direção e intensidade dos ventos, formação de ondas e leitura do tempo são parte do cotidiano da comunidade costeira, e os marinheiros que conduzem o transporte marítimo diariamente são fundamentais para que as aulas ocorram, pois as crianças moram em ilhas, enseadas, praias, encostas costeiras e pontas. Nesse encontro diário, a observação de como o experiente marinheiro conversa com o tempo e a criação de “retratos falados” dos tipos de nuvens tornaram possível a proteção da memória do povo caiçara por meio do compartilhamento de seus saberes. A partir do reconhecimento do território onde a escola está inserida, criam-se condições pedagógicas para a construção da identidade e, desse modo, a sala de aula pode influenciar a comunidade a apropriar-se de sua cultura e biodiversidade. A cartilha Seu Joaci e o tempo pode ser acessada pelo link https://issuu.com/catoesposito/docs/cartilha_seu_joaci.
Centro Educa Mais Professor Ribamar Torres, Pastos Bons (MA)
Com o objetivo de engajar alunos em atividades práticas a partir de temas transversais contemporâneos que contemplassem os ODS, relacionando meio ambiente e saúde com a vivência e experiência de cada um, o Centro Educa Mais Professor Ribamar Torres, em Pastos Bons (MA), iniciou a disciplina eletiva Olhos nos olhos. Partindo de aulas de campo para mapear e identificar as nascentes na cidade, foram feitos georreferenciamento no celular, mapas interativos, mutirão de limpeza das nascentes e exsicatas com plantas nativas. Para a culminância da eletiva, foi produzida uma sala temática com apresentações dos alunos sobre as nascentes visitadas, exposição de fotos e de plantas catalogadas. Após estudantes manifestarem desejo de continuidade das aulas de campo com as plantas do cerrado, foram elaborados roteiros para produção de vídeos disponibilizados no TikTok @cienvivencia. Com a participação de professoras(es), raizeiros, benzedeiros e artesãos da comunidade, foram realizadas oficinas sobre etnobotânica e artesanato, além de aulas sobre etnomatemática e PANCs, com coleta de frutos nativos para a produção artesanal de alimentos na escola com as merendeiras, e também na casa de estudantes e de professores. Partindo da investigação do território e dos saberes da comunidade, a disciplina eletiva possibilitou a discussão de importantes temas associados ao currículo, como racismo ambiental, diversidade socioambiental e biocultural, saber ancestral e sustentabilidade, ecologias e modos de vida, alfabetização em futuros, identidade e territórios, memória e resistência.
Escola Municipal Armando de Arruda Pereira, São Paulo (SP)
O Projeto motoca na praça, desenvolvido pela Escola Armando de Arruda Pereira, em São Paulo (SP), surgiu da necessidade de ativar experiências das crianças com e na cidade, utilizando as saídas com as motocas como um disparador. As saídas acontecem semanalmente e são acompanhadas por rodas de conversas com as crianças antes e depois dos passeios, interações com transeuntes, visitas a equipamentos culturais e registro das vivências por meio de desenho e fotografia. Ao propiciar experiências lúdicas com as motocas para além do chão da escola, o projeto destaca o território como espaço de aprendizagem e de experiência para as crianças, além de contribuir para a visibilidade da infância na cidade – especificamente na região central de São Paulo – e fortalecer as relações com o território por meio de parcerias com vizinhos, serviços, instituições e equipamentos culturais e sociais da região. Diferentemente de um passeio escolar que ocorre de modo eventual, as saídas de motoca compõem vivências cotidianas das crianças, assim como ir ao parque, tomar lanche ou ir à brinquedoteca, demandando sensibilidade das(os) educadoras(es) para reconhecer os ritmos urbanos e fazer uso deles com as crianças. Registros das saídas podem ser vistos no Instagram @projetomotocanapraca.
Escola Municipal Professor Waldir Garcia, Manaus (AM)
A Escola Professor Waldir Garcia, em Manaus (AM), localiza-se em uma área que sofre as consequências do tráfico de drogas, enchentes e incêndios, atendendo uma comunidade de alta vulnerabilidade social. Diante desse cenário, a equipe gestora realizou mudanças organizacionais que pudessem melhorar a educação e transformar vidas. Como mecanismo de gestão, adotou-se a intersetorialidade, constituindo o caminho para integração das ações, saberes e esforços da escola com os diferentes setores da política pública. A partir de encontros com mães, pais e funcionárias(os), decidiu-se focar na concepção de educação integral e no tempo integral para os estudantes. Por meio de assembleias semanais para as tomadas de decisões e grupos de trabalho com a participação de pais, merendeiras e demais funcionárias(os), todos foram corresponsabilizados pela aprendizagem, criando uma escola articulada com a comunidade e a sociedade. No decorrer dos encontros e estudos coletivos, a escola começou a reescrever seu Projeto Político Pedagógico e a elaborar uma nova proposta pedagógica pautada pela educação integral, constituindo-se um laboratório vivo onde a teoria é colocada em prática conforme vão se desenvolvendo os estudos e discussões.
Núcleo de Educação Infantil Taquaras, Balneário Camboriú (SC)
O Núcleo de Educação Infantil Taquaras, em Balneário Camboriú (SC), articula-se com o território de vida das crianças que atende, dando visibilidade, para os saberes e fazeres que já desapareceram ou estão em risco de desaparecimento, como o trabalho dos pescadores artesanais, os pássaros quero-queros que habitam o espaço, a música da folia do terno de reis e tantas outras práticas que circulam pela comunidade e atravessam os muros da escola. No projeto iniciado em 2021, o interesse pela produção artesanal de farinha de mandioca surgiu das próprias crianças, animadas pelas histórias de um colega, membro da família que mantém um engenho em funcionamento há mais de 100 anos. Além de pesquisas e mapeamento dos saberes das crianças, foi utilizado o jogo “Na trilha do engenho da mandioca”, aliando a brincadeira às conversas sobre cada etapa do processo. Também foi criado um cartaz-memorial usando fotos e informações retiradas do livro “Rodar do Engenho”, que aborda as pessoas que ainda resistem no trabalho agrícola na comunidade produzindo farinha de mandioca de maneira artesanal. Através da escuta ativa, que identificou o interesse das crianças, foi possível dar visibilidade para uma manifestação cultural centenária e fortalecer o sentimento de pertencimento e de valorização da cultura.
Escola Municipal Quilombola Professora Lydia Sherman, Armação dos Búzios (RJ)
A Escola Quilombola Professora Lydia Sherman, em Armação dos Búzios (RJ), está inserida em uma região de remanescentes quilombolas. Em diálogo com esse contexto, o projeto da escola e as propostas de atividades buscam sempre uma abordagem interdisciplinar, que vem sendo desenvolvida de forma a promover cada vez mais a pluralidade cultural, permitindo a preservação e a valorização da cultura quilombola. No ano letivo de 2022, a escola teve como principal objetivo o resgate da cultura dos seus discentes e a aproximação das famílias, com aprendizagens trabalhadas por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as contações de histórias, a capoeira, brincadeiras cooperativas e atividades de arte e reciclagem, contribuindo com o desenvolvimento da coordenação motora e a ampliação de vocabulário e repertório histórico provenientes da comunidade. Dentre as ações desenvolvidas, destacam-se o Dia Municipal Quilombola; o Sábado da Família; a apresentação de maculelê pelos alunos em comemoração aos 134 anos da abolição da escravatura; a regulamentação do nome oficial da sala de leitura, no qual a homenageada é uma ex-aluna pertencente à comunidade, quilombola e funcionária da escola; e a publicação da lei de mudança do nome da escola para Escola Municipal Quilombola.
Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos Clóvis Caitano Miquelazzo, São Paulo (SP)
No início de ano de 2021, a CIEJA Clóvis Caitano Miquelazzo, em São Paulo (SP), realizou uma pesquisa que apontou que 48% dos estudantes estavam desempregados, 51% dependiam do auxílio emergencial e, daqueles que estavam trabalhando, cerca de 50% tinham carteira assinada, muitas vezes em postos precarizados. Em vista dessa situação, a gestão escolar notou que questões referentes ao mundo do trabalho necessitavam urgentemente de reflexão. A isso se somava a dificuldade do uso de tecnologias, visto que, no período que antecedeu o projeto, muitas ações educativas realizadas exclusivamente em plataformas tecnológicas falharam. Foi traçado um percurso formativo, por meio do método de projetos, para que os estudantes pudessem se apropriar dos conceitos de economia criativa, cooperativismo, sindicalismo, direitos trabalhistas, ferramentas tecnológicas e outros. A iniciativa culminou na Semana de trabalho e tecnologia: na trilha da solidariedade, com ações que visavam possibilitar caminhos para que os estudantes vencessem a vulnerabilidade. Tendo em vista que não havia recursos para contratação de formadores além dos professores, a escola mapeou as habilidades das pessoas da comunidade para a realização de oficinas, workshops e palestras, de forma remota e presencial, para que os estudantes pudessem conseguir formas de gerar renda e colocar-se no mercado de trabalho.
Colégio Estadual Maria do Carmo Lima, Águas Lindas de Goiás (GO)
Em janeiro de 2022, o Colégio Maria do Carmo Lima, em Águas Lindas de Goiás (GO), criou o Cine EducAlimentação como forma de enfrentamento à insegurança alimentar que muitos dos estudantes vivem e que se agravou durante a pandemia. O cineclube veio como ferramenta para abordar assuntos mais complexos, como as políticas públicas para alimentação, com o objetivo de incentivar a juventude a conhecer as estratégias para a construção de uma sociedade sem fome. Uma vez por mês, em turmas do Ensino Fundamental II, é realizada uma sessão de cinema seguida de debate com convidados e disponibilização de lanche saudável oferecido por parceiros locais. Nos debates, as pautas são a pandemia e a fome, agricultura familiar, trabalho e comida, a relação entre campo e cidade, trabalhadores feirantes, o PNAE (Plano Nacional de Alimentação Escolar) etc. As estratégias para a realização do projeto se baseiam em parcerias, construções coletivas, escuta ativa da comunidade escolar, engajamento de estudantes, divulgação e merenda escolar de qualidade alinhada ao debate interdisciplinar, apresentando as políticas do Estado e suas responsabilidades sobre o assunto.
Escola Rural Municipal Cândida Oliveira Luz, Porto Barreiro (PR)
A Escola Rural Cândida Oliveira Luz, em Porto Barreiro (PR), está situada no meio rural, em um acampamento com 24 anos de história onde vivem e trabalham cerca de 140 famílias. Atualmente conta com 35 estudantes matriculados e funciona de forma multisseriada. O projeto pedagógico da escola envolve toda comunidade em um trabalho de investigação da fauna e dos saberes locais, utilizando passeios, pesquisas de campo e fotos antigas. A multidisciplinaridade e a integração da comunidade fazem parte do projeto pedagógico da escola, que alia o conhecimento às práticas do dia a dia, compreendendo que o trabalho na agricultura é fundamental para alimentar não apenas a comunidade, mas também outros territórios. A escola desenvolve um projeto de educação que tem como objetivos não somente aprimorar a formação dos estudantes e melhorar seus conhecimentos, mas também alimentar esperanças e sonhos por meio do fortalecimento dos laços com os alunos, pais e comunidade escolar como um todo, reconhecendo e valorizando os saberes locais.
O Prêmio Territórios Tomie Ohtake foi criado para reconhecer projetos em andamento que conectem a escola aos territórios da cidade por meio dos diversos saberes culturais. O projeto busca destacar ações que integrem os diversos saberes e que envolvam, além das disciplinas curriculares, o campo da cultura, em sua ampla acepção e diversidade.
A premiação para as 10 escolas selecionadas consiste em:
- Um pequeno acervo para as bibliotecas escolares com livros diversos doados por editoras parceiras e catálogos de arte das exposições do Instituto Tomie Ohtake;
- Realização de um minidocumentário que apresentará um resumo dos processos e resultados das iniciativas, a ser veiculado nos canais de comunicação do Instituto Tomie Ohtake, patrocinadores e parceiros, conferindo visibilidade às ações;
- Uma bolsa de estudos para um curso de graduação oferecida pela Estácio, que poderá ser utilizada por um estudante ou professor*;
- Uma bolsa para curso de arte do programa de Cursos Instituto Tomie Ohtake durante o ano de 2023 para dois representantes do projeto;
- Participação nos Encontros de Conexão e Reflexão, que reunirão os representantes dos 10 projetos selecionados;
- Apoio financeiro de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para a continuidade do projeto.
Objetivos da 6ª Edição
Integrado a campanha #ReviravoltaDaEscola, iniciativa do Centro de Referências em Educação Integral, a 6ª edição do Prêmio Territórios Tomie Ohtake visa mapear e discutir as aprendizagens vividas desde o início da pandemia, em 2020, com foco no entendimento acerca dos caminhos possíveis para se recriar a escola necessária para o nosso tempo, buscando ações inovadoras que tenham sido articuladas com os seus territórios de forma consistente e que tenham tido desdobramentos pós pandemia, a fim de fortalecer os princípios de uma Educação Integral. Para conhecer as experiências contempladas por esta e outras edições do Prêmio Territórios Tomie Ohtake, acesse o site:
O Júri
Beatriz Goulart – Mestre em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, diretora do centro de pesquisas e projetos Cenários Pedagógicos e diretora da Fábrica Escola de Humanidades. Participa, desde a criação, do Centro de Referencias em Educação Integral.
Carol Tonetti – Arquiteta e urbanista, mestre e doutora em Projeto, Espaço e Cultura. Professora na Escola da Cidade e coordenadora da graduação e o curso de Pós-graduação lato-sensu Arquitetura, Educação e Sociedade. Desde abril de 2022 dirige o Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Ohtake.
Gina Vieira – Graduada em Letras pela Universidade Católica de Brasília, atuou como professora da educação básica na Secretaria de Educação do DF por mais de 30 anos. É mestra em em Linguística. Autora do Projeto Mulheres Inspiradoras, agraciado com 15 prêmios, entre eles, o I Prêmio Ibero-americano de Educação em Direitos Humanos;
Natame Diniz – Cientista Social e educadora. Já desenvolveu diversos projetos e pesquisas no campo das artes e da literatura. Foi coordenadora de ações educativas da FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty e coordenadora de ação cultural da Biblioteca Mário de Andrade. Atualmente é coordenadora da Escola Tomie Ohtake.
Paula Mendonça – Educadora e Pesquisadora sobre a diversidade das infâncias e seus contextos socioculturais. Atuou no Instituto Socioambiental, assessorando escolas indígenas e projetos culturais em comunidades do Parque Indígena do Xingu no Mato Grosso. Coordena as áreas de educação e cidade do Programa Criança e Natureza do Instituto Alana.
Raiana Ribeiro – Jornalista, atua como Coordenadora de Programas da Cidade Escola Aprendiz, onde é responsável pela gestão dos programas Aluno Presente, Centro de Referências em Educação Integral e Educação e Território.
Imagem em destaque: Escola Municipal Quilombola Professora Lydia Sherman/Divulgação.