Tentando sobreviver ao suicídio de uma pessoa querida
“Eu também queria ter conseguido enxergar o futuro e impedido que meu marido se matasse. Depois do suicídio de Harry, examinei minuciosamente, inúmeras vezes, os acontecimentos que o levaram a isso, revirando cada fato que descobria de todos os lados possíveis. Deixei-me impregnar pelos detalhes mais ínfimos do que, para mim, era a sequência cronológica das últimas horas, minutos e segundos de sua vida.
Imaginava frequentemente diversos cenários, a fim de criar um final diferente. Eu dizia as palavras certas, fazia o gesto adequado, entrava na sala na hora certa. Então, como se fosse um filme, o quadro congelava e a ação se interrompia. E, por mais que eu reescrevesse e mudasse o roteiro, Harry sempre morria. Eu nunca saberei o que ele estava pensando, há quanto tempo tinha planejado a sua morte, por que tirara a vida naquele momento específico e, o que é mais doloroso, o que eu poderia ter feito de diferente para salvá-lo. Aos poucos, comecei a compreender que, para aceitar sua morte e celebrar sua vida, eu teria que perdoar nós dois pelo que tinha acontecido.” (Carla Fine)
Trecho do livro Sem Tempo de Dizer Adeus. Como sobreviver ao suicídio de uma pessoa querida, escrito por Carla Fine e editado pela WMF, 2018.
Para saber mais, CLIQUE NA CAPA DO LIVRO