Sobreviventes de parada cardíaca precisam de acompanhamento psicológico de longo prazo
Médicos e demais profissionais de saúde devem encorajar homens e mulheres sobreviventes de uma parada cardíaca a falar sobre seus sentimentos de ansiedade, depressão e estresse relacionados à ocorrência e esses pacientes devem receber acompanhamento de longo prazo para identificar e tratar os problemas de saúde mental decorrentes. Essas são recomendações dadas por Jesper Kjaergaard, médico cardiologista do Rigshospitalet, hospital da Universidade de Copenhague, capital da Dinamarca. Ele liderou uma pesquisa segundo a qual mais de 40 por cento das mulheres relatam crises de ansiedade quatro meses depois de terem sofrido uma parada cardíaca. Entre os homens essa porcentagem cai para 23 por cento. Os resultados acabam de ser apresentados no ESC Acute Cardiovascular Care 2023, um congresso científico da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC), realizado de 24 a 26 de março em Marselha, na França.
Participaram dele 245 pacientes que tiveram parada cardíaca na comunidade e foram internados em coma entre 2016 e 2021. Desse total, 44 eram mulheres. Os sintomas psicológicos foram acompanhados ao longo de quatro meses. O estudo avaliou a prevalência de ansiedade, depressão e de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e examinou se a gravidade dos sintomas diferia entre homens e mulheres.
A ansiedade e a depressão foram medidas por meio da Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS). Os pacientes deram uma pontuação de 0 a 3 para a frequência ou intensidade com que experimentaram 14 itens como “Tenho sentimentos repentinos de pânico”. A pontuação média do HADS foi de 2,7 para depressão e 4,8 para ansiedade. Os escores de depressão e ansiedade foram significativamente maiores nas mulheres (3,3 e 6,1, respectivamente), em comparação aos homens (2,6 e 4,5, respectivamente). Escores de ansiedade de 8 ou mais foram observados em 43% das mulheres e 23% dos homens. Observando os resultados da ansiedade com mais detalhes, 23% das mulheres tiveram uma pontuação de 8 a 10 em comparação com 11% dos homens, enquanto 20% das mulheres pontuaram 11 ou mais em comparação com 12% dos homens. As mulheres apresentaram níveis significativamente mais elevados de TEPT em comparação com os homens (pontuação média de 33 vs. 26, respectivamente). Tanto em homens quanto em mulheres, a ansiedade foi significativamente correlacionada com os sintomas de TEPT.
“A parada cardíaca ocorre com pouco ou nenhum aviso, e é comum sentir-se ansioso e abatido depois”, diz Kjaergaard.. “Após o choque inicial e a confusão, os pacientes e suas famílias sofrem uma mudança abrupta em seu estilo de vida, com investigações médicas para determinar a causa da parada cardíaca e, em alguns casos, o diagnóstico de uma condição que requer tratamento. Isso pode aumentar o estresse e a ansiedade. Nosso estudo indica que as mulheres são mais afetadas psicologicamente e podem necessitar de apoio extra”, destaca.
A parada cardíaca causa uma em cada cinco mortes nos países industrializados. O coração para inesperadamente de bombear sangue pelo corpo e, se o fluxo não for restaurado rapidamente, o indivíduo desmaia e morre em 10 a 20 minutos. De acordo com as estatísticas do hospital universitário, menos de 10% das pessoas que sofrem uma parada cardíaca sobrevivem até a alta hospitalar.
Ansiedade e depressão são frequentes após doenças críticas e estão fortemente associadas à redução da qualidade de vida em pacientes e familiares.
“Os achados confirmam nossa experiência na prática clínica de que os efeitos psicológicos da parada cardíaca persistem por meses. A ansiedade era frequente, principalmente nas mulheres. Nossos resultados destacam a necessidade de acompanhamento de longo prazo de sobreviventes de parada cardíaca para identificar e tratar problemas de saúde mental”, finaliza Kjaergaard.