Sesc Pompeia expõe Flávio de Carvalho Experimental em celebração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna

Sesc Pompeia expõe Flávio de Carvalho Experimental em celebração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna

Como parte do programa Diversos 22 – Projetos, Memórias, Conexões realizado pelo Sesc São Paulo, ao longo do ano, em celebração ao Centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e ao Bicentenário da Independência do Brasil (1822), será inaugurada no Sesc Pompeia a exposição Flávio de Carvalho Experimental, com curadoria de Kiki Mazzuchelli e curadoria adjunta de Pollyana Quintella.

Realizada em razão das reflexões acerca de ambas efemérides de 22, a mostra revisita a produção de Flávio de Carvalho e traz um panorama das suas importantes contribuições no período de transição entre as vanguardas do início do século XX e sua relação com o experimentalismo radical da década de 1960, tais como a Tropicália, Cinema Novo e o Concretismo. “Com sua obra, somos levados a considerar como as manifestações modernas no Brasil foram fundamentalmente atravessadas por contradições entre modernidade sociocultural e a modernização econômica, bem como por elementos antagônicos, como o profano e o religioso; o artesanal e o tecnológico; o rural e o urbano; elite e “povo”; instituições liberais e hábitos autoritários; democracia e ditadura”, afirmam as curadoras.

“Com a licença que as manobras de Flávio de Carvalho permitem arriscar, é possível conjeturar que parte importante da ação cultural realizada pelo Sesc, hoje, já se encontrava, em alguma medida, encarnada no corpo-fazer-obra desse polímata das artes. Como também o comprovam os artistas contemporâneos presentes nessa exposição, seu legado experimental encontra-se vivo e, mais que isso, transubstanciado em produções e instituições artísticas atuais”, destaca Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo.

Dividida em quatro núcleos – Arquitetura, Teatro, Experiências (que exploraram aspectos relativos à performance, moda e religiosidade) e Retratos –, a mostra traz documentações e 52 obras históricas de Flávio de Carvalho, concebidas de 1930 a 1973, além de contar com 18 trabalhos de dez artistas e dois coletivos cuja produção emergiu já no século XXI. Para construir esse diálogo entre o passado e o presente estão: arquivo mangue | camila mota y cafira zoé, Ana Mazzei; Antônio Tarsis; Cibelle Cavalli Bastos; Cristiano Lenhardt; Crochê de Vilão; Engel Leonardo; Guerreiro do Divino Amor; Maxwell Alexandre; Panmela Castro; Pedro França; e Teatro Oficina

“Tais artistas não apenas apontam desdobramentos contemporâneos de aspectos importantes da obra de Flávio, como também, em alguns casos, manifestam contradições e fragilidades expressas na obra deste artista, à luz das discussões do presente e da necessidade de compreender as falhas e limites que compõem a narrativa hegemônica em torno do modernismo brasileiro”, ponderam as curadoras.

Segundo Mazzuchelli e Quintella ainda, a exposição, ao tomar como ponto de partida o caráter experimental de Flávio de Carvalho e suas reverberações no presente, propõe uma abordagem inovadora de sua obra que se pauta pelas ideias (e não pelas categorias de atuação) que o artista desenvolveu em sua trajetória e que cumpriram um papel fundamental na expansão dos limites daquilo que é considerado arte. “A mostra busca oferecer uma visão mais aprofundada da contribuição fundamental de Flávio de Carvalho no período de transição entre as vanguardas do início do século e o experimentalismo radical da década de 1960, bem como mostrar a atualidade de questões levantadas por sua obra nos dias de hoje”, completam.

Flavio de Carvalho (Amparo da Barra Mansa/RJ-1899 – Valinhos/SP-1973)

Pintor, cenógrafo, escritor, teatrólogo e um dos um dos pioneiros da arquitetura moderna no país, já em 1931, realizou sua primeira intervenção no espaço público, o que hoje se convencionou a chamar de performance, na qual caminhou contra o fluxo de uma procissão de Corpus Christi nas ruas do centro de São Paulo (Experiência n.2,) Dois anos mais tarde, escreveu e dirigiu a peça O Bailado do Deus Morto, assegurando seu lugar como um dos precursores do teatro moderno brasileiro.

Registros da apresentação d’O Bailado do Deus Morto no Teatro Oficina, 2020 – Foto de Jennifer Glass.

Sua primeira exposição aconteceu em 1934 e incluiu uma vasta seleção de pinturas, desenhos e esculturas influenciados por tendências expressionistas e surrealistas. Flávio cumpriu, ainda, um papel importante como animador cultural na década de 1930 por meio dos inúmeros artigos e entrevistas que publicou em jornais e revistas, bem como pela organização de uma série de exposições e conferências que contaram com a participação de convidados locais e internacionais num momento em que o circuito artístico da cidade de São Paulo ainda era bastante provinciano. Pensador ávido e interessado nos campos da etnologia e da psicanálise, apresentou suas teorias pouco ortodoxas em congressos acadêmicos na Europa, América do Sul e Estados Unidos. Em 1956, quase aos 60 anos de idade, lançou publicamente seu New Look (Experiência n.3), um traje de duas peças idealizado para o homem tropical que consistia de um blusão e uma saia plissada (foto em destaque).  Embora Flávio de Carvalho tenha conquistado reconhecimento por setores da crítica ao longo de sua carreira – sobretudo pela produção em meios mais tradicionais -, suas proposições de caráter mais radical e experimental continuam sendo apresentadas como episódios isolados dentro da historiografia da arte brasileira.

Sobre as curadoras

Kiki Mazzucchelli (São Paulo, 1972) atua desde o início da década de 2000 como curadora. Nos últimos cinco anos, sua pesquisa tem se voltado à ampliação e ao aprofundamento das narrativas historiográficas da arte. É autora e editora de inúmeras publicações com foco em artistas da América Latina. Recentemente organizou as monografias de Tonico Lemos Auad (Koenig, 2018) e Marcelo Cidade (Cobogó, 2016). É co-fundadora do espaço independente Kupfer (Londres, 2017) e da residência para artistas brasileiros na Gasworks (Londres, 2017). Desde o início de 2022, é diretora artística da Galeria Luisa Strina.

Pollyana Quintella (Rio de Janeiro, 1992) é pesquisadora, crítica cultural e curadora da Pinacoteca de São Paulo. Graduada em História da Arte pela EBA-UFRJ (2015), é mestre pelo PPGAV-UERJ (2018) com pesquisa sobre o crítico Mário Pedrosa e doutoranda pelo PPGHA-UERJ. Foi colaboradora do Museu de Arte do Rio (MAR) na área de pesquisa e curadoria entre 2018 e 2020. Escreve para diversos periódicos culturais e leciona História da Arte Brasileira.

Imagem em destaque: Flávio de Carvalho apresentando seu New Look (Experiência n. 3) nas ruas de São Paulo, 1956. Fundo Flávio de Carvalho – Cedae/IEL – Unicamp

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