Sem querer, pesquisadores suíços aumentam os efeitos do Botox

Sem querer, pesquisadores suíços aumentam os efeitos do Botox
Richard Kammerer e Oneda Leka em um dos laboratórios do PSI diante de um aparelho que serve, entre outras coisas, para purificar proteínas. (Foto: Instituto Paul Scherrer/Mahir Dzambegovic)

A neurotoxina botulínica A1, mais conhecida pela marca registrada Botox, é na verdade uma toxina nervosa produzida por bactérias. Ficou conhecida pelo seu uso como auxiliar cosmético. Muitas pessoas injetam nas rugas para fazê-las parecer mais jovens. A substância bloqueia a transmissão de sinais dos nervos para os músculos, relaxando-os para que as características faciais pareçam suaves. Mas há outro uso, bem menos conhecido: o Botox também é usado com muita frequência na medicina terapêutica para tratar condições que podem ser atribuídas a cãibras musculares ou sinais nervosos defeituosos, incluindo dores, espasmos, problemas urinários, ranger de dentes e desalinhamentos, por exemplo dos olhos. O Botox é ainda usado no tratamento do câncer de estômago, para bloquear o nervo vago e, assim, retardar o crescimento do tumor.

Em qualquer terapia, é fundamental utilizar este medicamento altamente eficaz de forma muito direcionada e com dosagem cuidadosa, uma vez que o Botox é a toxina nervosa natural mais potente de todas, o que pode levar a uma paralisia perigosa num quadro clínico denominado botulismo. Apenas cerca de cem nanogramas administrados por via intravenosa podem ser suficientes para matar uma pessoa, porque a toxina paralisa os músculos respiratórios, juntamente com outros.

Resultados surpreendentes

Num projeto de pesquisa, uma equipe liderada por Richard Kammerer, do Laboratório de Pesquisa Biomolecular do Paul Scherrer Institute (PSI), na Suíça, queria investigar se seria possível influenciar a ação da toxina. “Para isso, juntamente com o bioquímico Andreas Plückthun, da Universidade de Zurique, produzimos 25 chamados DARPins”, diz Kammerer. DARPins são pequenas proteínas produzidas artificialmente que funcionam de forma semelhante aos anticorpos. Eles são usados ​​em terapia e diagnóstico, bem como em pesquisas médicas fundamentais.

A ideia era encontrar DARPins que se ligassem seletivamente ao chamado domínio catalítico do Botox sorotipo A1 (o mesmo usado nos cosméticos), parte da enzima responsável por seu efeito nos nervos, cortando certas proteínas. Esperava-se que os DARPins inibissem essa função. “In vitro – isto é, em amostras individuais no tubo de ensaio – identificamos um candidato adequado que limita a função da toxina botulínica”, relata Kammerer. Os pesquisadores conseguiram observar com precisão o complexo do DARPin e o domínio catalítico, até o nível molecular, e descobrir como o DARPin evita a clivagem. Mas quando os investigadores também testaram este DARPin em culturas de células, em colaboração com uma equipe do Instituto de Biomedicina da Universidade de Pádua, na Itália, um efeito completamente diferente – oposto, na verdade – tornou-se subitamente aparente: a ação tóxica do Botox – a clivagem de proteínas que são importantes para a transmissão dos sinais dos nervos – teve efeito ainda mais rápido do que o habitual. “No início pensamos que tínhamos feito algo errado”, diz Oneda Leka, pesquisadora de pós-doutorado no Laboratório de Pesquisa Biomolecular do PSI e primeira autora do estudo. Mas outras experiências confirmaram a descoberta contraditória: em vez de diminuir, o efeito tóxico da enzima Botox acelerou.

Agora os pesquisadores repetiram os experimentos com músculos reais, os diafragmas de ratos. Estes permanecem intactos por muito tempo em uma solução nutritiva e são um modelo preferido para testar os efeitos das toxinas nervosas. Também aqui os resultados indicaram que, com o DARPin, o efeito paralisante da toxina se manifestou duas vezes mais rapidamente.

A pesquisa pode ser acessada aqui.

Novas opções para terapia com Botox

Por que isso acontece? A possível explicação é muito complexa bioquimicamente. Simplificando, as DARPins desestabilizam a toxina de tal forma que são transportadas mais rapidamente para o interior das células nervosas. Como resultado, a toxina faz efeito mais rapidamente.

O resultado – por mais inesperado que tenha sido – abre novas portas. possibilidades de tratamento de diversas doenças. De acordo com Richard Kammerer: “Na medicina da dor, um aditivo que acelera o início do efeito de um medicamento extremamente eficaz e duradouro pode ser interessante”.

Diferentes tipos de botox

As neurotoxinas botulínicas são categorizadas em sete grupos de sorotipos, designados pelas letras de A a G. O Botox usado em cosméticos vem do primeiro grupo. Para ser mais preciso, é designado subtipo A1. Sabe-se que três outros sorotipos – B, E e F – também podem levar ao botulismo em humanos, com E e F agindo significativamente mais rapidamente, mas não tanto quanto A e B. O efeito começa após apenas algumas horas e dura algumas semanas, o que abre opções importantes na terapia da dor e na ortopedia, por exemplo. Os tipos C e D são eficazes em algumas espécies animais, como aves; até o momento nenhum caso de botulismo foi observado com o tipo G.

Os sorotipos são produzidos principalmente por diferentes cepas da bactéria Clostridium botulinum . Esses micróbios prosperam anaerobicamente, isto é, na ausência de oxigênio, e são encontrados principalmente no solo, bem como em sedimentos marinhos e fluviais. Se entrarem nos alimentos e forem armazenados em recipientes herméticos, como pode ser o caso dos produtos em conserva, existe o risco de contaminação pela toxina. Comê-lo pode causar botulismo. Contudo, a doença ocorre muito raramente; nos últimos dez anos, houve apenas um ou dois casos por ano na Suíça.

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