Rodovias brasileiras pioram, encarecem transporte e fazem população pagar mais pelo que consome
A qualidade das rodovias brasileiras piorou no último ano. É o que mostra a 23ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, recém divulgada pela Confederação Nacional do Transporte e pelo Serviço Social do Transporte (SEST) e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT). O estado geral da malha rodoviária nacional apresenta problemas em 59% da extensão dos trechos avaliados. Em 2018, esse percentual era um pouco menor: 57%. Também está pior a situação do pavimento (52,4% com problemas), da sinalização (48,1%) e da geometria da via (76,3%). Na pesquisa anterior, a avaliação foi de 50,9%, 44,7% e 75,7% respectivamente.
Chama a atenção o aumento no número de pontos críticos identificados. Em 2018 eram 458. Em 2019, 797. Um aumento de 75,6%. São considerados pontos críticos: quedas de barreira, pontes caídas, erosões na pista, buracos grandes. Essas situações atípicas ocorrem ao longo da via e podem trazer graves riscos à segurança dos usuários, além de custos adicionais de operação.
Pavimentos deficientes reduzem a segurança viária. Em 2018, foram registrados 69.206 acidentes nas rodovias federais brasileiras. O prejuízo gerado é da ordem de R$ 9,73 bilhões para o país, com a perda de 5.269 vidas e, ainda, com 76.525 pessoas feridas. O cálculo leva em conta os prejuízos com veículos, cargas, despesas médico-hospitalares. Também considera a perda de produção das pessoas que morrem nas rodovias, parte delas ainda muito jovem.
Desperdício de diesel e maior poluição
Rodovias em más condições também aumentam o custo de manutenção dos veículos, o consumo de combustível, lubrificantes, pneus e freios. Pavimentos inadequados levam a um desperdício de diesel em torno de 5%, pois aumentam as frenagens e re-acelerações. Também há mais poluição do ar. Em 2019, estima-se que, por causa das rodovias, haja um consumo desnecessário de 931,80 bilhões de litros de diesel. Isso representa a emissão de 2,46 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) no ar. A pesquisa estima que esse cenário aumente o custo do transporte rodoviário em 28,5%, em média. Em rodovias com pavimento em péssimo estado de conservação, esse acréscimo chega a ser de 91,5%. Transporte mais caro significa, no final, produtos mais caros e de menor qualidade para o consumidor, especialmente os perecíveis.
A pesquisa da CNT vale tanto para as rodovias sob gestão do governo como para as que estão nas mãos da iniciativa privada pelo regime de concessão. Avalia as condições de toda a malha federal pavimentada bem como dos principais trechos estaduais asfaltados. Nesta edição de 2019, 24 equipes percorreram 108.863 quilômetros, nas cinco regiões do Brasil, entre 20 de maio e 18 de junho. O estudo também realiza o levantamento das infraestruturas de apoio, como trechos com postos de abastecimento, borracharias, concessionárias e oficinas mecânicas, restaurantes e lanchonetes disponíveis ao longo do trajeto.
Pela primeira vez, os interessados podem acessar pelo site da CNT os resultados do levantamento tanto em nível nacional como estadual. Ali estão dados de investimentos, acidentes, meio ambiente, entre outros.
Segundo o presidente da entidade, Vander Costa, a priorização do setor nas políticas públicas e a maior eficiência na gestão dos recursos aplicados são imprescindíveis para que os problemas diminuam e a segurança no transporte aumente.