Produções de detentos, trans e refugiados são destaque na São Paulo Fashion Week deste ano
Mais uma vez o Ponto Firme levou sensibilidade e emoção às passarelas do São Paulo Fashion Week, no Senac Lapa Faustolo, nesta quarta-feira (1/6). Detentos e egressos do projeto e alunos da Escola Ponto Firme (mulheres, pessoas trans e refugiados), sob o comando do estilista e artesão Gustavo Silvestre, se dedicaram à produção da coleção. Nas passarelas, inclusão e diversidade também: teve modelo com síndrome de down, gorda, trans, não binárias, orientais, negros e negras. As peças foram confeccionadas unindo o artesanal com o sustentável, apresentando a inovação no uso de materiais.
Casar a moda artesanal com a sustentabilidade é uma marca do Ponto Firme e do Gustavo Silvestre. Desde o início de projeto, Silvestre sempre propôs essa conscientização e reflexão, destacando fortemente o conceito de upcycling, ou seja, uma forma criativa de reaproveitar materiais e resíduos. Além da parte ambiental, Gustavo traz consigo a mensagem social, escancarada com o projeto Ponto Firme e com a Escola Ponto Firme, que iniciou o ciclo de cursos no começo deste ano. “O Ponto Firme surgiu em 2015, a partir de uma iniciativa voluntária. Eu encontrei no crochê uma forma de ressignificar meu trabalho com a moda e a arte. Descobri que a técnica poderia ser também uma ferramenta de educação e assim tem sido desde que criamos o projeto na penitenciária, e agora, com a escola”, aponta o estilista.
Nesta edição, Silvestre explorou a mistura de texturas, cores e materiais. “Esta coleção mescla diferentes fios: metálicos, de algodão, fios jeans e viscose. Além disso, há a experimentação com miçangas, correntes, materiais de descarte, sempre utilizando a técnica do crochê e a conexão entre todas as pessoas que participaram desta criação”, descreve.
Projeto e Escola Ponto Firme
Criado em 2015, o projeto Ponto Firme ensina para detentos da Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos, cidade da região metropolitana de São Paulo, técnicas de crochê, tricô e amigurumi. Mais de 150 alunos já participaram das aulas semanais realizadas por Gustavo Silvestre e aprenderam a confeccionar itens de vestuário e decoração. No início de 2022, o estilista abriu as portas da Escola Ponto Firme, espaço inaugurado na última edição do SPFW, para o curso de crochê e artes manuais. Com a idealização da escola, o Ponto Firme, que atendia exclusivamente homens, detentos e egressos, alcança novas possibilidades de atuação, uma vez que também capacita mulheres, pessoas trans e refugiados nos cursos.
Uma dessas realizações foi promovida pelo Ministério Público do Trabalho com o curso Faces & Sustentabilidade, ministrado por Silvestre na Escola Ponto Firme. As aulas duraram um mês e aconteciam duas vezes por semana para dois grupos distintos: um de pessoas trans, formado em grande parte por alunas egressas do sistema prisional, e outro de pessoas refugiadas, sendo 12 aprendizes em cada turma. A iniciativa buscou proporcionar a capacitação para o trabalho decente para populações historicamente vulneráveis.
“A dignidade do trabalho é reveladora de novas habilidades e talentos, rompendo com discriminação, preconceitos, situações de trabalho escravo e de tráfico de pessoas. O Ponto Firme deseja continuar a promover a reinserção social por meio do desenvolvimento de práticas profissionalizantes, assim como o apoio e incentivo para a geração de renda através da empregabilidade e empreendedorismo”, completa o estilista. Alunos e alunas que se destacaram nos cursos, continuaram suas criações em crochê com Gustavo Silvestre e as peças desenvolvidas também fazem parte da coleção apresentada pelo Ponto Firme nesta edição do SPFW.
As aulas dentro da Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos, também continuam semanalmente e muitas peças criadas pelos alunos também serão apresentadas no desfile. “Um dos destaques é a mini bolsa que foi criada em crochê por um dos alunos detentos a partir de saco de arroz descartado e miçangas reaproveitadas. A peça reforça o compromisso do projeto com a sustentabilidade e inovação no uso de materiais”, revela Silvestre. Participantes egressos que já faziam parte do Ponto Firme também terão peças ou componentes em crochê apresentados no desfile. Ao todo, são 30 pessoas envolvidas na criação desta coleção, entre refugiados, pessoas trans, detentos, egressos e costureiras.
Imagem em destaque: Bolsa Ponto Firme. Crédito Danilo Sorrino/SPFW 2022
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