Peritos confirmam que restos mortais encontrados são do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira

Peritos confirmam que restos mortais encontrados são do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira
Avião da Polícia Federal (PF) chega ao aeroporto de Brasília com restos mortais do jornalista Dom Phillips e indigenista Bruno Pereira.

Confirmado. Os restos mortais encontrados na Amazônia são do jornalista inglês Dominic Phillips e do indigenista Bruno Pereira. O primeiro corpo identificado foi o de Dom Phillips, por meio da arcada dentária. A identificação dos remanescentes humanos do indigenista Bruno Araújo Pereira foi divulgada neste sábado, 18. Ambos foram mortos por arma de caça. Ontem, 17, a Polícia Federal divulgou nota afirmando que os assassinos agiram sozinhos, sem o envolvimento de mandantes ou de organizações criminosas, o que gerou protestos por parte da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava), da qual Bruno Pereira fazia parte (ver nota).

Os restos mortais dos assassinados chegaram no dia 16 ao Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, em Brasília, onde foram periciados para confirmação da identidade.  Eles estavam desaparecidos desde 5 de junho, na região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas. Os restos mortais foram encontrados após o pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”, ter confessado a participação no desaparecimento e indicado o local onde os corpos foram enterrados. 

Grito de socorro

“A maior floresta tropical do mundo e seus moradores gritam por socorro. Bruno Pereira e Dom Phillips escutaram esse apelo, entenderam o que está em risco, que se traduzia em ameaças sistemáticas e avassaladoras a vidas, modos de vida e a permanência de um legado rico, complexo e sofisticado – a Floresta Amazônica. Se comprometeram e agiam profissionalmente para apoiar e dar voz a quem está no lado mais vulnerável, como os índios isolados, e os que resistem e lutam para defender a Amazônia. O crime que ceifou as vidas de Bruno e Dom precisa ser investigado e punido. A violência do qual foram vítimas não é algo isolado e não pode ser banalizada. Ela pode atingir qualquer um que presta serviço de interesse público em regiões tomadas pelo crime.” Este é um trecho da nota de pesar pelo assassinato do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira divulgada hoje pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, que há 155 anos se dedica à ciência no Amazonas.

A íntegra da nota:

O Museu Paraense Emílio Goeldi manifesta publicamente a solidariedade às famílias do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, ambos assassinados em junho no exercício de suas profissões no Vale do Javari, na Amazônia Brasileira. Nossa preocupação e solidariedade se estende também a todos povos originários e comunidades que se encontram ameaçados por pessoas e organizações criminosas, que atuam sem limites na Amazônia e degradam todos os aspectos da vida na região.

A maior floresta tropical do mundo e seus moradores gritam por socorro. Bruno Pereira e Dom Phillips escutaram esse apelo, entenderam o que está em risco, que se traduzia em ameaças sistemáticas e avassaladoras a vidas, modos de vida e a permanência de um legado rico, complexo e sofisticado – a Floresta Amazônica. Se comprometeram e agiam profissionalmente para apoiar e dar voz a quem está no lado mais vulnerável, como os índios isolados, e os que resistem e lutam para defender a Amazônia. O crime que ceifou as vidas de Bruno e Dom precisa ser investigado e punido. A violência do qual foram vítimas não é algo isolado e não pode ser banalizada. Ela pode atingir qualquer um que presta serviço de interesse público em regiões tomadas pelo crime.

Que as vidas de Bruno e Dom, e todos que defenderam os direitos humanos e uma Amazônia com justiça socioambiental, sejam sementes de um Brasil diverso que constrói, compartilha conhecimentos e produz para conservar em benefício das gerações atuais e futuras.

Nosso respeito e sentimentos para Beatriz Matos, Alessandra Sampaio, seus filhos, familiares, amigos e colegas.

A OAB se manifesta

Nota do Conselho Federal da OAB sobre o caso Bruno Pereira e Dom Phillips

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) recebeu com consternação o noticiário que informa a morte do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista Dom Phillips, na região do Vale do Javari, na Amazônia.

A morte de dois profissionais reconhecidos internacionalmente pela importância dos respectivos trabalhos desenvolvidos na Amazônia é mais uma triste página do histórico de conflitos que assola a região.

O CFOAB e sua Comissão Nacional de Direitos Humanos acompanharão os desdobramentos do caso e atuarão para cobrar das autoridades a responsabilização dos autores desse crime brutal.

Neste momento de profunda dor, a OAB se solidariza com as famílias de Bruno Pereira e Dom Phillips, e todos os jornalistas e ambientalistas que enfrentam inaceitáveis riscos e ameaças no cumprimento de suas missões.

Beto Simonetti, presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)

A FUNAI lamenta…

A Fundação Nacional do Índio (Funai) vem a público, com imenso pesar, lamentar o falecimento do servidor Bruno da Cunha Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, que estavam desaparecidos desde o dia 05 de junho após saírem em expedição no Vale do Javari, no Amazonas.

Bruno ocupava o cargo de Agente em Indigenismo na Funai desde 2010. Também foi chefe das Coordenações Regionais Juruá (Acre) e Vale do Javari (Amazonas). Atuou, ainda, como coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC).

O servidor deixa um imenso legado para a política de proteção de indígenas isolados e de recente contato, área em que se tornou um dos principais especialistas no país e que atuava com extrema dedicação. O indigenista era considerado uma referência por colegas e por indígenas, com os quais construiu uma relação de amizade ao longo dos anos.

Bruno era descrito pelos colegas como um amigo educado, sensível às temáticas indígenas, bem-humorado e sempre colaborativo com todos os setores da Funai, reunindo características que inspiravam a todos: familiares, amigos, colegas de trabalho e indígenas, para quem ele trabalhava incansavelmente.

A fundação lamenta profundamente a perda e manifesta solidariedade aos familiares e colegas do indigenista. A instituição, em especial as equipes da CGIIRC e das Frentes de Proteção Etnoambiental, se despedem de Bruno com profunda admiração, respeito e carinho. A Funai também se solidariza com a família, amigos e colegas do jornalista britânico.

Assessoria de Comunicação/Funai

… Mas antes teve de se retratar

Em resposta a um pedido feito pela Defensoria Pública da União (DPU), a juíza Jaiza Maria Pinto Fraxe, da 1ª Vara Federal Cível da Justiça Federal no Amazonas, determinou em despacho que a Fundação Nacional do Índio não desacreditasse a trajetória do indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. A magistrada consignou que a Funai deveria se abster de praticar qualquer ato que “possa ser considerado atentatório à dignidade” de ambos ou que implique em “injusta perseguição” à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava) ou aos servidores do órgão que ali atuam.

A DPU questionou uma nota em que a Funai contestava a autorização do indigenista Bruno Pereira para entrar na Terra Indígena Vale do Javari e afirmava que iria acionar o Ministério Público para “apurar a responsabilidade” da Unijava “quanto a recente contato sem o conhecimento da instituição e, aparentemente, sem a adoção das medidas sanitárias cabíveis, entre elas a realização de PCR e de quarentena de 14 dias”.

Em seu despacho, a juíza ressaltou: “não há que se falar em acusar e desacreditar a instituição que está trabalhando de forma legítima pelos direitos de seu próprio povo – povos indígenas – que é a Univaja. O foco do problema narrado nos autos (pedido e causa de pedir) é o quadro de abandono e omissão que está vitimando povos indígenas, seguido do desaparecimento de duas pessoas que estavam legalmente na região a convite de quem possui legitimidade pela lei, pela Constituição e pelos Tratados Internacionais dos quais o Brasil é signatário”.

A decisão da juíza veio a público na terça-feira, 14, quando os corpos de Dom e Bruno ainda não haviam sido encontrados e as buscas prosseguiam.

ONU faz apelo

O Escritório de Direitos Humanos da ONU lamentou profundamente os assassinatos do jornalista britânico Dom Philipps e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, na Amazônia brasileira. Uma nota divulgada pela porta-voz Ravina Shamdasani condena o “terrível e brutal ato de violência” e pede “às autoridades do Estado para garantir que as investigações sejam imparciais e transparentes”, além de garantir que as famílias das vítimas sejam reparadas. 

O Escritório lembra que “ataques e ameaças contra defensores de direitos humanos e povos indígenas, inclusive os que vivem em isolamento voluntário, continuam persistentes”. 

As Nações Unidas fazem um apelo às autoridades brasileiras para que “aumentem os esforços para garantir que defensores de direitos humanos e indígenas estejam protegidos de todas as formas de violência e de discriminação por parte do Estado e de atores não-estatais”. Outro pedido é para que o Brasil “tome medidas para prevenir e proteger territórios indígenas de ações ilegais, por meio do reforço de órgãos governamentais responsáveis pela proteção dos povos indígenas e do meio ambiente: Funai e Ibama”.

*matéria atualizada em 18 de junho de 2022

Imagem em destaque: Avião da Polícia Federal (PF) chega a Brasília com restos mortais de assassinados no Aeroporto de Brasília. Foto Polícia Federal/Divulgação

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