Fóssil encontrado em solo gaúcho impunha respeito no tempo dos dinos

Fóssil encontrado em solo gaúcho impunha respeito no tempo dos dinos
Crânio fóssil de Parvosuchus aurelioi sob preparação mecânica. Foto crédito: Janaína Brand Dillmann.

Um crânio completo, inclusive com a mandíbula, 11 vértebras dorsais, uma pélvis, alguns membros parcialmente preservados… Depois de cuidadosamente separados e retirados do solo, levados para o laboratório, limpos, medidos, documentados, analisados, comparados, confrontados com todo o conhecimento adquirido até o momento, esses fósseis revelaram ser uma relíquia para a história da vida no planeta. São os primeiros desse tipo a serem encontrados no Brasil, mais precisamente na Formação Santa Maria, localizada no centro do Rio Grande do Sul, região que engloba 22 municípios gaúchos, entre eles Santa Maria, daí o nome dado a ela. Certificada pelo Guiness, essa formação geológica é considerada o berço dos dinossauros mais antigos já registrados.

Seria então mais um dinossauro? Não! Trata-se de um pequeno réptil de quatro patas, que se alimentava de carne e que, estima-se, viveu há mais ou menos 237 milhões de anos, numa época que a ciência chama de Triássico. Segundo os estudiosos, esses répteis predadores eram comuns naqueles tempos, com algumas de suas espécies situadas entre os maiores carnívoros de então, e impunham respeito antes do domínio dos dinossauros. Os paleontólogos os chamam de pseudosuchus. Na língua usada pelos cientistas para nomear suas descobertas, pseudo significa falso, aparente, em latim, e suchus quer dizer crocodilo em grego. Esses répteis lembram mesmo nossos atuais crocodilos.

O espécime encontrado na Formação Santa Maria é, então, um pseudosuchiano. No quebra-cabeça que os paleontólogos vêm montando para entender como eram e viviam os seres vivos deste planeta num passado remoto, esses grandes répteis conviveram com outros menores, os gracilisuchus (gracilis, em latim, significa delgado, fino). Há provas disso na China e também na Argentina, pertinho de nós.

Reconstrução artística de dois indivíduos de Parvosuchus aurelioi numa paisagem do Triássico. Crédito: Matheus Fernandes.

O nosso, porém, é pequeno. Seu crânio mede 14,4 centímetros de comprimento e apresenta mandíbulas longas e finas, com dentes pontiagudos que se curvam para trás e várias aberturas no crânio. O esqueleto, de construção leve, teria aproximadamente um metro de comprimento total. Essas características o classificam como um gracilisuchídeo, tornando-o membro da primeira espécie desse grupo a ser encontrado no Brasil.

Por ser pequeno, seu descobridor, o paleontólogo Rodrigo Müller, da Universidade Federal de Santa Maria, deu a ele o nome de Parvosuchus (parvus significa pequeno em latim). Completou seu nome com aurelioi, em homenagem a Pedro Lucas Porcela Aurélio, paleontólogo amador que descobriu os materiais fósseis. Uma ideia de como ele seria aparece na reconstrução artística que ilustra este texto. A descoberta do Parvosuchus aurelioi é descrita num artigo publicado na edição de hoje da revista Scientific Reports.

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