No Sesc, palestra aborda a influência de ritmos paraguaios na música popular brasileira
No próximo 22 de novembro, Dia da Música, Evandro Rodrigues Higa dará palestra no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo sobre os ritmos musicais do Mato Grosso do Sul e sua inclusão no cenário da música popular brasileira. A palestra traz ao público o conteúdo de seu livro Para Fazer Chorar as Pedras: Guarânias e Rasqueados de um Brasil Fronteiriço, recentemente publicado pela Editora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Além da guarânia, o livro aborda outros gêneros fronteiriços como a polca paraguaia, o chamamé e o rasqueado, cujo exemplo mais conhecido é a música Chalana, gravada por Almir Sater. Tais gêneros se originaram no Paraguai e acabaram posteriormente adaptados ao Brasil, onde se integraram completamente à música caipira e sertaneja tipicamente popular e brasileira.
O livro é fruto da tese de doutorado defendida por Higa no Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2013. Mas sua vontade de conhecer a fundo esses ritmos começou bem antes.
Desde a infância, na cidade de Campo Grande (MS), Higa se acostumou a ouvir guarânias, polcas paraguaias e chamamés, gêneros musicais típicos da região fronteiriça entre Mato Grosso do Sul e o Paraguai.
“Quando 20 anos atrás eu procurei estudar por que e como essa cultura paraguaia musical estava tão presente no Brasil, eu me deparei com a absoluta falta de estudos e bibliografias sobre o assunto não só aqui no Brasil mas também no Paraguai”, lembra Higa, ao explicar sua motivação para se aprofundar no tema. A curiosidade acabou se transformando numa dissertação de mestrado apresentada na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), em 2005.
“Meu projeto de doutorado pesquisou a guarânia no Brasil nas décadas de 40 e 50 e a forma como ela se tornou tão presente dentro da cultura brasileira, principalmente depois que a dupla Cascatinha e Inhana gravou, em 1952, os versos de Índia e Lejania, que no Brasil levou o titulo de Meu primeiro Amor”, explica Higa. Composta pelo paraguaio Jose Assunción Flores, tido como o criador da guarânia, Índia seria ainda gravada posteriormente por artistas consagrados como Gal Costa e Roberto Carlos, alcançando uma posição de extrema visibilidade e sucesso comercial na época, extrapolando o segmento da música sertaneja e sendo apropriada também por outros setores da música popular.
“O Brasil é um país de dimensões continentais e incrustado na América do Sul, mas que de modo geral não se sente latino-americano. A presença da música paraguaia nessa área de fronteira faz parte do perfil identitário dessa região do Mato Grosso do Sul e na maioria das vezes, quando pensamos em cultura brasileira, nós acabamos não considerando isso da forma como deveríamos”, aponta o professor da UFMS.
Hoje, o pianista dá aulas no curso de música da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e palestras sobre o tema.
A do dia 22 de novembro tem início às 19 horas, no 4º andar da Rua Dr. Plínio Barreto, 285, no bairro da Bela Vista, em São Paulo, capital. A entrada é franca e as inscrições já podem ser feitas no site do Centro de Pesquisa e Formação ou nas Unidades do Sesc em São Paulo.