Não haverá recuperação econômica sem cultura, alerta diretora da Unesco
Em sua reunião anual, realizada em Paris, França, o Comitê Intergovernamental da Convenção da UNESCO de 2005 sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais decidiu financiar uma série de iniciativas com o objetivo de impulsionar as indústrias culturais e criativas em países em desenvolvimento ao redor do mundo. Selecionados entre 1.027 inscrições de 102 países, os projetos irão aprimorar o desenvolvimento de políticas e medidas culturais comprovadas, promover o empreendedorismo cultural em comunidades indígenas e ampliar a participação da sociedade civil, mulheres e jovens no desenvolvimento de políticas culturais, e apoiarão a mobilidade dos artistas. Os projetos visam fortalecer a resiliência das indústrias culturais e criativas, que foram severamente afetadas pelo COVID-19, e tornar a cultura mais acessível a todos.
A pandemia da Covid-19 gerou uma crise cultural profunda, sem precedentes, e revelou desafios fundamentais, especialmente a precariedade dos artistas e o risco de padronização dos produtos culturais caso a diversidade cultural não seja promovida.
Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, disse aos presentes que “a próxima recuperação determinará quem seremos nos próximos anos”. “A cultura não pode ser esquecida nos planos nacionais, porque não haverá recuperação econômica sem cultura”, declarou.
Em 2021, ano em que o mundo celebra o Ano Internacional da Economia Criativa para o Desenvolvimento Sustentável e planos de recuperação são buscados em todo o planeta, a UNESCO exortou os Estados a não ignorar a cultura.
Durante a reunião, que teve início em 1 de fevereiro e termina amanhã, um debate sobre como artistas e criadores estão se adaptando em resposta à pandemia concluiu ser preciso um maior apoio de governos e organizações regionais e internacionais.
O debate reuniu Jean-Michel Jarre (músico e Embaixador da Boa Vontade da UNESCO), Adberrahmane Sissako (diretor de cinema), Thomas Steffens (CEO da Primephonic), Vanja Kaludjercic (diretor do Festival Internacional de Cinema de Rotterdam), Victoria Contreras (fundadora e diretora geral da a Asociación Conecta Cultura de México) e Álvaro Osmar Narváez (Secretário de Cultura da cidade de Medellín, Colômbia, Cidade Criativa da Música da UNESCO).
Jean-Michel Jarre afirmou: “Nesta pandemia, assistimos a filmes, ouvimos música e lemos livros. Nossos museus e teatros são serviços públicos. Essas necessidades primordiais da vida humana estão em perigo e devemos perguntar a nós mesmos e aos nossos governos se queremos salvar a cultura. A pandemia deve nos unir para trabalharmos juntos”.
Por sua vez, Abdherrahmane Sissako destacou que “muitos países africanos carecem de estruturas e políticas que levem em consideração o papel dos artistas na sociedade. Muito poucos artistas ganham dinheiro e quando ocorre um drama como a pandemia, as consequências são terríveis para os artistas e a criatividade. Devemos aproveitar esta oportunidade para lembrar às autoridades públicas a fragilidade da humanidade sem cultura”.
Alguns dos projetos que serão financiados
Cada projeto receberá mais de 70 mil dólares do Fundo Internacional para a Diversidade Cultural (IFCD). Com o prêmio deste ano, o IFCD terá apoiado 120 projetos em 60 países em desenvolvimento com mais de 8,7 milhões de dólares desde 2010.
1 – A Avaliação das Indústrias Culturais e Criativas da Jamaica, proposta pela Jamaica Business Development Corporation (JBDC), mapeará as indústrias culturais do país para criar um sistema sustentável de governança cultural na Jamaica. Através de uma perspectiva de gênero e uma abordagem inclusiva e liderada pela comunidade, o projeto prevê uma avaliação econômica das indústrias culturais e criativas e o desenho de uma estratégia nacional para o desenvolvimento do setor.
2 – Ninhos culturais, que apoia empresas emergentes culturais indígenas, proposto pelo Centro de Investigación en Comunicación Comunitaria A.C. de México, promoverá seis empresas indígenas recém-criadas em três estados do México por meio de programas de treinamento, financiamento inicial, um processo de pré-incubação e a criação de um site de comércio eletrônico.
3 – O fortalecimento da participação da sociedade civil no desenvolvimento de políticas culturais no Camboja, proposto pela Cambodian Living Arts, criará uma nova associação para representar as indústrias culturais e criativas no Camboja com o objetivo de fortalecer a capacidade da sociedade civil e daqueles que trabalham nas indústrias culturais e criativas, bem como apoiar o desenvolvimento de políticas e defesa.
4 – O fortalecimento da cena da dança contemporânea na África Oriental, proposto pela Organização Muda África da Tanzânia, irá beneficiar 45 artistas de dança, em particular mulheres, de Ruanda, Uganda e Tanzânia por meio da criação de uma rede e de um portal na web que oferecerá treinamento coreográfico além de promover políticas culturais.
5 – O desenvolvimento das capacidades das mulheres e jovens criadores para uma política cultural inclusiva em Honduras, proposto pela Associação de Mulheres nas Artes “Leticia de Oyuela”, apoiará a participação da sociedade civil, criará um comitê nacional e uma plataforma para intercâmbio de conhecimento. Também prevê a organização de reuniões nacionais.
6 – Igualdade de gênero para a diversidade cultural, proposta pela Associação Cena Cultural Independente da Sérvia, realizará atividades de mapeamento, treinamento e orientação para apoiar as mulheres a iniciarem seus próprios negócios na Sérvia. Também criará uma rede de indústrias culturais e criativas.
Honduras e a República Unida da Tanzânia serão beneficiadas pela primeira vez este ano com o apoio do Fundo Internacional para a Diversidade Cultural.
Foto – projeto A Avaliação das Indústrias Culturais e Criativas da Jamaica/Unesco