Médicos Sem Fronteiras resgatam 71 pessoas no mar Mediterrâneo e pedem ajuda a Itália e Malta para esses migrantes
Pelo menos 22 pessoas estão desaparecidas e uma mulher grávida morreu ontem, 27 de junho, após o naufrágio parcial de um bote de borracha no Mediterrâneo Central. A equipe de Médicos Sem Fronteiras (MSF) resgatou 71 sobreviventes da frágil embarcação no Geo Barents, navio fretado pela organização para busca e salvamento. Agora MSF está pedindo às autoridades maltesas e italianas que ofereçam um local seguro para o desembarque dos sobreviventes o mais rápido possível.
No mesmo dia, um barco foi interceptado pela guarda costeira da Líbia antes que o Geo Barents pudesse prestar assistência aos ocupantes. Horas depois, a Alarm Phone, organização que dá suporte de linha direta para pessoas que atravessam o mar Mediterrâneo em direção à Unidade Europeia, emitiu um alerta indicando outra embarcação em perigo na área. A equipe de MSF a bordo do Geo Barents navegou por três horas até alcançar o bote, que estava em más condições e afundando, enquanto seus passageiros lutavam para sobreviver, muitos deles já no mar.
MSF resgatou os sobreviventes, trazendo a bordo uma mulher grávida que não sobreviveu. Três outras pessoas precisaram passar por cuidados de emergência, incluindo um bebê de quatro meses. O bebê e sua mãe foram transferidos posteriormente para Malta. Agora, a equipe está fornecendo cuidados para os demais sobreviventes, a maioria extremamente fraca e em estado de choque. Duas mulheres disseram ter perdido seus filhos no mar. Outra jovem explicou que ter pedido seu irmão mais novo. Com base nas informações coletadas, 22 pessoas estão desaparecidas.
Enquanto a equipe ainda coleta informações sobre as pessoas desaparecidas, duas mulheres já disseram às nossas equipes que perderam seus filhos no mar. Outra jovem explicou que havia perdido seu irmão mais novo. Através de entrevistas com os sobreviventes em luto, estão sendo coletadas informações de mais de uma dúzia de pessoas desaparecidas.
“As tragédias no mar continuam a custar milhares de vidas, perdidas às portas da Europa com absoluto silêncio e indiferença por parte dos membros da União Europeia. Este evento traumático é uma consequência mortal da crescente falta de ação e de engajamento dos estados fronteiriços europeus e de outros países, incluindo Itália e Malta, no mar Mediterrâneo”, diz Juan Matias Gil, representante das operações de busca e salvamento de MSF.
“As organizações de busca e salvamento não podem preencher essa enorme lacuna sozinhas. Nós não temos essa capacidade. Além disso, essa é uma responsabilidade dos governos”, diz Gil. “O que aconteceu mostrou que, sozinhos, não podemos fazer o suficiente. Onde estão os estados?”, questiona.
A mais mortal fronteira
Dados divulgados em 22 de junho pelo Projeto Migrantes Desaparecidos, da Organização Internacional das Migrações (OIM), o mar Mediterrâneo continua sendo a fronteira mais mortal do mundo, com 24.184 migrantes desaparecidos desde 2014, 721 pessoas somente em 2022. Os estados-membros da União Europeia (UE) e os estados fronteiriços com o mar Mediterrâneo estão condenando as pessoas a se afogarem com as políticas de não assistência. MSF exige que os membros da União Europeia liderem, de forma dedicada e proativa, uma resposta de busca e resgate no Mediterrâneo Central, e que forneçam uma resposta rápida e adequada a todos os pedidos de socorro.
“Estivemos no mar por 19 horas antes de sermos resgatados. Durante todas essas horas, vi muitas pessoas se afogando. Estou feliz por ter sido salvo, mas isso acompanha muitas lágrimas”, afirma o migrante camaronês que foi resgatado e agora está seguro a bordo.
O Geo Barents agora se dirige para Itália e solicita junto às autoridades maltesas e italianas um local seguro. MSF pede um desembarque seguro e oportuno para os sobreviventes o mais rápido possível para evitar o aumento do sofrimento dessas pessoas e o agravamento da saúde mental.
MSF no Mediterrâneo
MSF realiza atividades de busca e salvamento no Mediterrâneo Central desde 2015 e atuou em oito navios diferentes (sozinho ou em parceria com outras ONGs). No total, as equipes de MSF resgataram mais de 85 mil pessoas. O Geo Barents é o atual navio fretado de busca e salvamento de MSF.
Entre junho de 2021 e maio de 2022, o navio esteve no mar por 11 vezes e conduziu 47 operações de busca e salvamento, resgatando 3.138 pessoas e recuperando os corpos de mais 10 pessoas que morreram no mar. As equipes de MSF a bordo realizaram 6.536 consultas médicas para cuidados primários de saúde, saúde sexual e reprodutiva e saúde mental.
Crianças sozinhas
Dentre os sobreviventes resgatados, 34% eram crianças, dentre as quais 89% estavam desacompanhadas e/ou separadas de suas famílias. 265 pessoas relataram às equipes de MSF ter sofrido alguma forma de violência, tortura ou maus-tratos. Entre elas, 63 pessoas relataram ter sofrido violência sexual e outras formas de violência baseada em gênero.
As equipes médico-humanitárias também registraram 620 incidentes de violência perpetrados contra ou testemunhados pelas pessoas resgatadas, que incluíram agressão física, tortura, sequestro, prisão arbitrária e detenção, principalmente na Líbia, mas também durante suas múltiplas interceptações e retornos forçados pela guarda costeira líbia.
Imagem em destaque: Travessia do Mar Mediterrâneo é a via marítima mais perigosa do mundo. Foto F. Malavolta/ACNUR
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