Mapeamento dos circuitos do cérebro pode refinar tratamentos neurológicos
Estudo publicado na Nature Neurosciente revela que o uso da Estimulação Cerebral Profunda* (ECP) para mapear circuitos cerebrais disfuncionais pode fazer com que tratamentos para certas doenças neurológicas sejam mais precisos. As descobertas melhoram a nossa compreensão dos circuitos que levam a tais doenças e podem ajudar na identificação de alvos potenciais para tratamento adicional.
ECP envolve cirurgia para implantar eletrodos no cérebro e atenuar redes cerebrais que estão com defeito, que se manifestam como distúrbios neurológicos. ECP do núcleo subtalâmico (uma pequena estrutura encontrada abaixo do tálamo) é comumente usado para tratar a doença de Parkinson e está sendo investigado para tratar distonia, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e síndrome de Tourette. No entanto, não está claro exatamente quais circuitos cerebrais precisam ser estimulados para a melhora máxima dos sintomas de cada condição. A identificação desses circuitos poderia tornar as estratégias de tratamento mais direcionadas e eficazes.
No estudo, Barbara Hollunder, Ningfei Li, Andreas Horn e colegas, dois deles do Brasil, usaram dados de 261 pacientes com doença de Parkinson, distonia, TOC ou síndrome de Tourette que já haviam sido submetidos a cirurgia para implantar eletrodos ECP no núcleo subtalâmico. Esses dados permitiram aos autores mapear quais circuitos cerebrais estavam sendo modulados pela ECP e como isso se relacionava com a resposta terapêutica. Eles descobriram que as interconexões do núcleo subtalâmico ao córtex sensório-motor eram mais relevantes para o tratamento da distonia; ao córtex motor primário na síndrome de Tourette; à área motora suplementar para a doença de Parkinson; e aos córtices pré-frontal ventromedial e cingulado anterior para TOC. Além disso, os autores realizaram experiências de validação dos seus resultados para a doença de Parkinson e TOC em duas coortes independentes. Também foram capazes de orientar prospectivamente o tratamento em um paciente com doença de Parkinson e dois com TOC com base em suas descobertas. Todos esses pacientes relataram uma redução nos sintomas após tratamento específico do paciente com ECP.
Os autores concluem que suas descobertas são úteis para uma melhor compreensão das mudanças nos circuitos cerebrais subjacentes a esses distúrbios e têm potencial para melhorar as estratégias de tratamento desses distúrbios. No entanto, observam que são necessárias mais pesquisas e validação com dados específicos do paciente.
* Deep Brain Stimulation (DBS) em inglês.