Mais de 200 milhões de crianças se alimentam mal no mundo. No Brasil, o problema é a obesidade
No Brasil, 6 em cada 100 crianças com menos de 4 anos de idade são obesas. A informação faz parte do relatório O Estado Mundial da Criança, divulgado hoje, 15 de outubro, pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). De acordo com o documento, uma em cada três crianças com menos de cinco anos está desnutrida ou acima do peso. No total, são mais de 200 milhões de meninos e meninas.
Além disso, duas em cada três crianças entre seis meses e dois anos de idade não estão se alimentando para ter um desenvolvimento rápido dos seus corpos e dos seus cérebros. Isso pode criar vários problemas, como atrasos mentais, baixo desempenho escolar, valores baixos de imunidade, maior probabilidade de infecções e até, em alguns casos, morte.
O levantamento apresenta vários indicadores para o período entre 2013 e 2018, destacando altura e peso abaixo do ideal, além de obesidade.
Dentre os países de língua portuguesa, a taxa mais alta de desnutrição crônica (51%) pertence a Timor-Leste. Nesse país, os índices de desnutrição aguda e obesidade ficaram em 13% e 1% respectivamente. No Brasil, os valores foram de 7% (desnutrição crônica) e 3% (desnutrição aguda).
O relatório descreve uma ameaça tripla para a saúde das crianças. Primeiro, desnutrição, depois fome oculta (causada pela falta de nutrientes essenciais) e, por fim, excesso de peso ou obesidade.
Em todo o mundo, 149 milhões de crianças são demasiadamente baixas para a sua idade e cerca de 50 milhões têm um peso muito baixo.
Além disso, praticamente 5 em cada 10 crianças sofre de deficiências em vitaminas e nutrientes essenciais, como vitamina A e ferro. Por fim, 40 milhões delas estão acima do peso ou são obesas.
Ameaça tripla
O relatório alerta que as más práticas alimentares começam desde os primeiros dias da vida de uma criança. Embora a amamentação possa salvar vidas, por exemplo, apenas 42% das crianças com menos de seis meses de idade são amamentadas exclusivamente pela mãe e um número crescente de crianças são alimentadas com fórmulas lácteas infantis.
Entre 2008 e 2013, por exemplo, as vendas de fórmula à base de leite cresceram 72% em países de renda média alta, como o Brasil, China e Turquia. O relatório diz que isso se deve “em grande parte ao marketing inadequado e políticas e programas fracos para proteger, promover e apoiar a amamentação.”
Mais tarde, entre seis meses e dois anos de idade, quase 45% das crianças não são alimentadas com frutas ou vegetais. Quase 60% não comem ovos, laticínios, peixe ou carne.
Acima do peso
Mais tarde na sua vida, o relatório mostra que 42% dos adolescentes em idade escolar em países de baixa e média renda consomem refrigerantes com açúcar pelo menos uma vez por dia e 46% comem fast-food pelo menos uma vez por semana. Em países de alta renda, essas taxas sobem para 62% e 49%.
Como resultado, os níveis de excesso de peso e obesidade na infância e adolescência estão aumentando em todo o mundo. De 2000 a 2016, a proporção de crianças com excesso de peso entre 5 e 19 anos dobrou. Dez vezes mais meninas e 12 vezes mais meninos sofrem de obesidade hoje do que em 1975.
O relatório também destaca crises alimentares causadas por desastres relacionados ao clima. A seca, por exemplo, é responsável por 80% dos danos e perdas na agricultura.
Estamos perdendo a luta
Para Henrietta Fore, diretora executiva do Unicef, o relatório revela que “não se trata apenas de ter o suficiente para comer, mas sim ter o alimento certo”. De acordo com ela, “milhões de crianças sobrevivem a uma dieta pouco saudável porque não têm outra opção”. Fore destaca que o mundo “perdeu de vista o fato mais básico, que é: se as crianças comem mal, elas vivem mal” e que estamos “perdendo a luta por dietas saudáveis.” Para ela, “é preciso que governos, setor privado e sociedade deem prioridade à nutrição infantil e trabalhem juntos”..