Lei da Noruega combate falsa perfeição nas redes sociais e protege contra doenças mentais

Lei da Noruega combate falsa perfeição nas redes sociais e protege contra doenças mentais
Photo by Roberto Hund on <a href="https://www.pexels.com/photo/woman-in-white-blazer-in-front-of-mirror-5358111/" rel="nofollow">Pexels.com</a>

Em um movimento para aliviar a pressão gerada por “pessoas idealizadas na publicidade”, a Noruega acaba de implantar uma lei exigindo que influenciadores digitais não postem fotos editadas sem informar o que fizeram nas imagens. As regras afetarão qualquer postagem paga em plataformas de mídia social, um esforço para “reduzir a pressão nos mais jovens sobre a aparência de seus corpos”. A legislação também vale para quando as mudanças são feitas por meio de filtros aplicados às imagens, recursos comuns em aplicativos como Snapchat e Instagram.

As redes sociais popularizaram a ideia da aparência perfeita. Existem pessoas que passam horas trabalhando em seus perfis sociais, investem tempo e dinheiro para aprender o melhor ângulo e luz para selfies, além do uso excessivo de filtros e programas de tratamento de fotos. Isso não só é exaustivo como produz ansiedade e insegurança.  Ainda mais quando a imagem que o jovem apresenta de si não representa quem ele sente que é de verdade. 

Segundo Adriana Drulla, mestre em Psicologia Positiva pela Universidade da Pensilvânia e especialista em autocompaixão, trabalhar para manter uma imagem de si que não corresponde àquilo que você é impacta negativamente a autoestima.

Um estudo feito nos Estados Unidos descobriu que o uso das mídias sociais com o intuito de comparar-se com o outro ou ter a validação do outro, está associado com sintomas de depressão. Outro estudo feito em 2019 concluiu que adolescentes que usavam mídias sociais em excesso, por mais de 3 horas por dia, tinham maior risco de desenvolver doenças mentais e menos bem-estar.

“Todos os seres humanos se comparam com os demais, mas na adolescência isso é mais acentuado. As redes sociais criam padrões de comportamento, sociais e físicos que são inatingíveis e pouco realistas. E a autoestima é impactada quando jovens e adultos se comparam com esses padrões sociais”, destaca.

Autoestima e depressão

As redes permitem modificações de aspectos da nossa aparência, de fatores que não gostamos. Para a especialista, dessa forma nos sentimos mais confiantes em postar a foto, já que ela se aproxima mais do nosso ideal do que a aparência que vemos no espelho. 

“Quando recebemos um feedback positivo sobre essa imagem retocada, nos sentimos bem e a nossa autoestima aumenta, mesmo que temporariamente.  O problema é que quando passamos a tratar todas as nossas fotos, vamos construindo uma imagem que não nos representa como somos de verdade, mas que nos agrada mais. Mais ainda, aprendemos que os outros também gostam dessa imagem retocada. Então passamos a supervalorizar essa imagem e nos comparar a ela a todo o momento. Ela passa a ser nosso referencial. E a consequência é que fica cada vez mais difícil gostar de quem somos e como somos de verdade”, explica. 

“Outro dia li um artigo que dizia que o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e se tornou campeão mundial das cirurgias plásticas. É necessário reverter esse paradigma e desafiar o padrão cultural de beleza. Enquanto indivíduos, precisamos nos conscientizar dos absurdos que exigem dos nossos corpos. É agressivo exigir que envelheçamos sem rugas, cabelos brancos e flacidez, porque isto é impossível. É um envelhecer difícil porque, além de ser permeado pela insegurança, julgamento e autocrítica, ele vem acompanhado das dívidas que contraímos para comprar esse corpo perfeito”, conclui. 

Como reverter os conceitos

Para Adriana, é preciso ensinar as próximas gerações que é importante abraçar e saborear as diferentes fases da vida e não tentar alterá-las. “Porém, enquanto a mídia e o marketing continuarem a promover esse padrão social, será difícil reverter esse paradigma. Porque o mito do culto ao perfeito está impregnado na nossa socialização – está presente até nos desenhos animados. Precisamos movimentar a sociedade nesse sentido e esta é uma importante bandeira do movimento feminista, por exemplo”, destaca a especialista. 

Uma forma de melhorar a relação consigo mesmo em um momento em que as redes sociais moldam o comportamento e a autoestima dos adolescentes e adultos é mudar o foco da autoestima para a autocompaixão. Segundo a especialista, “a autoestima é resultado de uma avaliação que fazemos sobre nós mesmos. Ela é um sentimento positivo que surge quando nos comparamos socialmente e nos sentimos melhor do que os outros, ou quando percebemos que os outros nos avaliam de forma positiva”. 

A autocompaixão é um antídoto poderoso para as dificuldades emocionais. A autocompaixão consiste em ter uma visão lúcida e realista sobre as próprias imperfeições, entendendo que elas são naturais e fazem parte da experiência humana. É o entendimento de que erros e defeitos são comuns a todos. 

“Quando aceitamos nossas imperfeições com o entendimento de que são normais, conseguimos ver os erros como parte do nosso aprendizado e não provas da nossa incompetência. Quer dizer, nossas imperfeições fazem parte de quem somos, mas elas não nos definem. E se entendemos que todos sofremos, não nos sentimos inferiores por sofrer. Sob essa perspectiva, fica mais fácil ser gentil consigo mesmo durante um momento de dificuldade”, explica Drulla.

Autocompaixão, uma habilidade que pode ser aprendida, é sobre dar suporte a si mesmo como daria a um grande amigo que estivesse passando pela mesma situação. “Fica mais fácil pedir ajuda, evoluir e superar o que nos incomoda. Intervenções focadas em desenvolver autocompaixão nos jovens causam uma redução significativa de sintomas de ansiedade, estresse e depressão. Autocompaixão está relacionada a resiliência emocional, satisfação com a vida, e com redução da probabilidade de suicídio e automutilação entre adolescentes”, finaliza.

Imagem em destaque: Pexels

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