Jovens protestam contra a participação de lobistas de empresas poluentes na COP27
No dia 10 de novembro, jovens, adolescentes e crianças tomaram conta da COP27 e foram vistos e ouvidos em quase todos os cantos do centro de conferências. Eles se expressaram não apenas protestando, mas também com música, dança, roupas coloridas e desenhos nas paredes com mensagens aos líderes mundiais. Uma reivindicação comum feita aos dirigentes da COP27 foi: “expulsem os poluidores”. Três ONGs denunciaram que, na lista de participantes, com mais de 45 mil registrados, há mais de 600 lobistas de combustíveis fósseis, um aumento de 25% em comparação à reunião do ano passado.
Armados com camisetas, faixas, cartazes, megafones e, principalmente, com depoimentos emocionantes e cheios de fatos científicos e financeiros, os jovens tomaram as salas da COP27 para exigir dos negociadores que abordem a questão das perdas e danos.
“Há catástrofes climáticas e destruição, e meu país acaba pegando dinheiro emprestado do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial para lidar com as repercussões… nossos países não podem se desenvolver por causa dos custos da crise climática”, disse um jovem ativista africano durante um dos muitos protestos do dia.
Perdas e danos
“Nossos futuros estão sendo roubados de nós e isso é uma injustiça”, declarou o jovem.
“Perdas e danos” referem-se a custos assumidos por países que contribuíram menos para a mudança climática, mas estão sofrendo os impactos, como aumento do nível do mar e eventos climáticos extremos cada vez mais comuns.
Atualmente, países em desenvolvimento como Paquistão, Bangladesh e um bom número de nações africanas são obrigados a arcar com custos muito altos para se recuperar de desastres induzidos pelo clima, e os jovens acreditam que é hora de os grandes poluidores pagarem sua dívida ecológica.
“Esta é uma questão que foi deixada de lado COP após COP. O fato de estarmos em um país africano este ano é muito significativo. É um fato científico que os países com menos recursos econômicos e com quase nenhuma responsabilidade pelas emissões são os que acabam sofrendo mais… Trata-se de reparação e justiça social”, disse Bruno Rodriguez, jovem ativista argentino.
O apelo dos jovens foi claro: eles querem o estabelecimento de um mecanismo de financiamento para perdas e danos que possa fornecer valores adicionais e prontamente acessíveis para ajudar as nações em desenvolvimento a se ajustarem e limitarem os “impactos irreversíveis de mudança de vida sobre os jovens”.
A comunidade científica concorda
O relatório anual “10 Novas Percepções em Ciência Climática” oferece uma síntese concisa das descobertas mais urgentes sobre pesquisas relacionadas a mudanças climáticas para informar as negociações da COP e destacou a importância de lidar com perdas e danos como um “imperativo planetário urgente”.
Durante a divulgação do relatório, que coincidiu com o Dia da Juventude e Ciência, os cientistas ressaltaram que perdas e danos já estão ocorrendo e devem aumentar significativamente com base nos modelos de trajetórias atuais.
“Embora muitas perdas e danos possam ser calculados em termos monetários, também há aqueles que não são econômicos e precisam ser compreendidos e contabilizados”, alertaram os autores do relatório, pedindo uma resposta política global coordenada e “urgente” sobre a questão.
O documento também destaca que muitas dessas consequências não podem ser evitadas com meras medidas de adaptação e que agir rapidamente para reduzir as emissões é uma opção muito melhor.
Para os autores do relatório, dezenas de milhares de pessoas já estão morrendo devido ao impacto climático e esse fato precisa estar no centro das negociações.
Eles também destacaram que mais de 3 bilhões de pessoas vão viver em áreas com maior suscetibilidade a riscos climáticos até 2050, o dobro do que é hoje.
Sobre os lobistas
O embaixador Wael Aboulgmagd, representante especial para a presidência egípcia da COP27, disse à imprensa que, embora não pudesse dizer se esses representantes de indústrias participantes eram lobistas ou apenas membros de certas entidades, há de fato muitas indústrias contribuindo para as emissões presentes, como empresas de cimento e fertilizantes, mas garantiu que eles não estão participando das negociações, esclareceu.
Ele disse esperar que, durante o Dia da Descarbonização, que acontece em 11 de novembro, muitos deles demonstrem como estão avançando na redução de suas emissões.
Com relação às negociações gerais, Aboulgmagd afirmou que um primeiro projeto de texto de decisão para o programa de trabalho de mitigação mostra um “progresso muito bom”, e que, na manhã de sábado, as delegações começariam a fornecer contribuições para o documento final da COP27.
Imagem em destaque: Jovens ativistas protestam exigindo que líderes lidem com perdas e danos Crédito: UN News/Laura Quiñones