Jovens estão fumando mais! Uma sessão de narguilé pode corresponder a 100 cigarros
Nos primeiros dias de maio, os pais de uma menina de 12 anos de idade foram chamados à escola porque a filha havia sido flagrada portando dois cigarros eletrônicos. O fato aconteceu na cidade de Prudentópolis, Paraná, considerada a cidade mais ucraniana do Brasil. Acompanhada dos pais e dos policiais chamados para cuidar do caso, a menina foi até o estabelecimento onde comprou os cigarros. Lá foram apreendidos outros 430 cigarros eletrônicos de diversas marcas e o dono do lugar foi detido. Além da violação do artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – não se pode vender cigarros para menores de idade – a comercialização de cigarro eletrônico é proibida pela Anvisa (RDC 46/2009).
Apesar de a legislação brasileira estabelecer proibições quanto ao consumo de cigarro eletrônico, narguilé e tabaco, a população tem acesso a eles, a procura é muito grande e isso resulta na alta do número de pacientes que desenvolvem alguma doença vascular devido ao hábito. O Dia Mundial Sem Tabaco, promovido em 31 de maio, foi estabelecido para conscientizar sobre os riscos do fumo.
O cigarro tradicional é composto por tabaco e outras substâncias, como a nicotina, uma das responsáveis pela dependência. No chamado cigarro ‘natural’, o fumante fabrica seu próprio fumo, sendo assim, o tabaco não passa por processos químicos. No entanto, os malefícios à saúde venosa são iguais em ambos os cenários, como afirma o médico Daniel Urban Raymundo, diretor da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV- SP) – Seccional de Franca, em São Paulo. “Não há diferença na forma de consumo de tabaco. Qualquer tipo de cigarro é considerado nocivo”, alerta ele.
O cigarro eletrônico ganhou popularidade por também prometer ser menos prejudicial ao corpo, o que não é real. Além da ação da nicotina, do tabaco e de outras substâncias, os metais que formam o dispositivo apresentam ameaças à saúde. É a situação do narguilé (ou hooka), que, por possuir tabaco aromatizado e ser filtrado na água, acredita-se que não apresente riscos. O fumo, porém, possibilita a intoxicação por monóxido de carbono e outras doenças. Pesquisas apontam que em uma sessão de narguilé de duas horas é possível consumir o mesmo que 100 cigarros.
De acordo com o cardiologista e chefe da seção de Hipertensão Arterial, Tabagismo e Nefrologia do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, dr. Márcio Gonçalves de Sousa, o problema se intensifica devido ao grande tempo de exposição à fumaça. “Com a questão social, muita gente usando [o narguilé], o usuário acaba consumindo um grande volume de nicotina porque o padrão da tragada é maior e mais frequente que o cigarro comum. A quantidade de fumaça tragada é superior e isso aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial”, declara.
Os riscos à saúde se estendem aos fumantes passivos, ou seja, pessoas que têm contato com a fumaça e acabam inalando frequentemente. Segundo Sousa, um fumante passivo acaba consumindo até cinco cigarros sem necessariamente fumar. “Eles vão ter os mesmos males que um fumante convencional. O que vai diferir é a quantidade de exposição que essa pessoa teve”, aponta. Os pacientes passivos sofrem até 38% de risco de infarto.
O consumo de tabaco, em suas diferentes formas, obstrui as artérias periféricas ao longo do tempo e impede o fluxo de sangue no corpo. “O cigarro também altera a coagulação do sangue, ocasionando fenômenos tromboembólicos”, esclarece Raymundo.
“Os riscos dessas substâncias, independente de qual via são usadas – tabaco natural ou cigarro eletrônico – além das doenças cardiovasculares, podem ocasionar doenças pulmonares, como as DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), que são o enfisema e a bronquite crônica. O terceiro caso é o câncer, que abrange 55 tipos”, explica Sousa.
O surgimento das doenças pode passar despercebido, por se tratar de condições silenciosas, como dores nos membros inferiores e dificuldades para caminhar. Sem o tratamento correto, esses sintomas podem evoluir para quadros agudos graves, como a trombose arterial.
O fumante pode carregar as consequências durante toda a vida. “As doenças arteriais associadas ao cigarro, geralmente depois de instaladas, não são mais reversíveis, mas podem se estabilizar após a interrupção do tabagismo. Já doenças como a trombose venosa podem ser revertidas com o tratamento. Se retirar o fator de risco, no caso o tabagismo, diminui a possibilidade de o indivíduo ter novos eventos”, informa Sousa.
Para escapar de qualquer complicação originada pelo cigarro, a melhor forma é não adquirir o hábito. Os fumantes devem realizar regularmente uma visita ao médico para monitorar a saúde e controlar suas consequências. “O cirurgião vascular é o especialista encarregado em diagnosticar e tratar as doenças vasculares periféricas que podem acometer o tabagista”, orienta Raymundo.
Fábio H. Rossi, médico que preside a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, Regional São Paulo, é enfático: “O tabagismo é o principal fator de morte por doenças cardiovasculares nos países ocidentais. Existem vários mecanismos responsáveis, o hábito provoca a destruição da camada interna dos vasos sanguíneos, aumenta o colesterol e a formação de trombos. Esses fatores estão relacionados à ocorrência do Infarto Agudo do Miocárdio, do Acidente Vascular Cerebral e da Doença Arterial Obstrutiva Periférica, que, nos casos mais graves, pode levar a amputações. Os riscos de trombose venosa e embolia pulmonar também são altos. Outras possíveis consequências são o desenvolvimento de aneurismas, de ruptura e de óbito, que também são maiores nos fumantes. É muito importante que a população seja alertada sobre esses perigos, sobretudo os mais jovens, faixa etária em que o hábito do tabagismo vem aumentando”.
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