Inteligência Artificial: o impacto de seu uso no recrutamento de voluntários em pesquisa clínica

Inteligência Artificial: o impacto de seu uso no recrutamento de voluntários em pesquisa clínica
Foto Crédito CDC/Unsplash

Guilherme Sakajir(*)

A sociedade, como um todo, é fortemente impactada pelas transformações tecnológicas em curso. Hoje, o uso da tecnologia está, na maioria das organizações sociais, intrínseco à cultura do ser humano. No ano de 2022, não foi diferente. Inovações como computação quântica, automação e realidade virtual foram algumas das áreas que amadureceram nesse período, desenvolvendo novas formas de lidar com o ambiente ao nosso redor. Mas, um destaque especial fica para a Inteligência Artificial (IA).

Nos últimos meses, o que ficou em evidência entre os usuários foram as IAs generativas, famosas por transformar uma foto em pintura ou desenho com base em um banco de dados. Uma rede social que surfou nessa tendência foi o TikTok, que chegou a disponibilizar filtros com a tecnologia. Contudo, o uso da Inteligência Artificial não fica restrito apenas ao meio artístico e das redes sociais.

Um setor que tem se apropriado dessas inovações é o da saúde. Mas, dentro do universo médico, uma área que merece mais atenção para o uso dessa ferramenta, pois tem um enorme potencial de crescimento, é a de recrutamento de voluntários para pesquisas clínicas.

Tecnologia no recrutamento de voluntários
A prospecção de voluntários é uma parte essencial dessas pesquisas, pois o sucesso de um ensaio clínico depende da capacidade de inscrever um número suficiente de pacientes com os requisitos desejados. Esse processo pode ser desafiador, pois envolve a identificação e inscrição de pessoas elegíveis, que desejam participar do estudo. Com isso, uma parcela significativa dos custos é dedicada a esta atividade.

Para cada tipo de estudo, é determinado um tamanho de população necessário para garantir que a amostra seja representativa ao público-alvo, o que é importante para que os resultados sejam generalizáveis. Logo, é preciso que tenham inscrições suficientes de pacientes para obter poder estatístico, que é a probabilidade de um estudo detectar um efeito de um tratamento ou intervenção, se houver.

Essa dificuldade de encontrar os voluntários adequados pode gerar um impacto financeiro significativo, mas o problema maior são os atrasos no fechamento do estudo, pois isso retarda o acesso de medicamentos inovadores aos pacientes que precisam daquele tratamento.

E é aí que entra a Inteligência Artificial. A maior vantagem do uso dessa tecnologia é o aprimoramento da experiência dos voluntários, pois, além da redução do deslocamento e da dedicação de tempo, eles têm ferramentas para registrar sintomas e se comunicar de maneira mais fluida com a equipe responsável. Essa melhoria ajuda a ampliar o número de candidatos dispostos a participar e aumenta a chance de sucesso do estudo.

Além disso, o uso da tecnologia também permite que populações mais distantes dos grandes centros tenham a oportunidade de se voluntariar, o que traz não só um ganho do ponto de vista humanitário, mas também uma maior representatividade de populações diversas na pesquisa.

Tudo isso gera um impacto na velocidade de realização dos estudos e na qualidade dos resultados, especialmente na coleta e gestão de dados. Entretanto, existem algumas barreiras que impedem a adoção mais veloz destas ferramentas. É necessário garantir que a tecnologia consiga lidar com as complexidades inerentes à esfera da saúde.

Principais dificuldades
Enquanto que nos setores financeiro e varejista o uso de soluções eletrônicas já está bastante avançado, a área de saúde não possui um padrão comum para transação de dados clínicos, o que dificulta a adoção desses recursos.

A segurança e privacidade também são temas bastante importantes e que, muitas vezes, representam pontos de atrito para o uso de ferramentas tecnológicas, especialmente quando envolvem a exposição destes dados para além do ambiente do centro de coleta.

Outro fator é que o setor de pesquisa clínica sempre foi muito conservador em relação ao uso de tecnologia por lidar com um tema tão importante como aprovação de novos tratamentos.

Mas o cenário tem mudado, devido à pandemia de Covid-19, a indústria foi obrigada a se transformar. Um destaque especial fica para a adaptação de protocolos que permitem o acompanhamento a distância, como o uso da telemedicina, reforçando conceitos novos, como virtual clinical trials e descentralized clinical trials.

Associado à redução das visitas presenciais aos centros, houve um aumento da necessidade de ferramentas que permitissem a captura de dados de maneira remota. Esta tendência se refletiu na elevação do uso de aplicativos para registro de dados pelo próprio paciente, assim como na maior presença de wearables – dispositivos vestíveis – para captura de sinais vitais.

Expectativas para 2023
Nos últimos anos, também houve uma ampliação na utilização de tecnologias para expandir o alcance das pesquisas com ações de comunicação e engajamento. Além da busca de pacientes diretamente no prontuário eletrônico, cresceu também a importância das redes sociais para divulgar os estudos a um número maior de pessoas.

Diante desse cenário, a evolução da Inteligência Artificial já tem mostrado efeitos transformadores no setor da saúde, mas promete também avanços para o âmbito de recrutamento de voluntários das pesquisas clínicas. As perspectivas de 2023 são muito favoráveis, pois diversas mudanças com impacto positivo estão para acontecer ou já aconteceram nos últimos meses.

A mais recente foi a instituição da Rede Brasileira de Pesquisa Clínica (RBPClin), destinada a promover e a incentivar o desenvolvimento científico e tecnológico. Esta rede funcionará como um fórum de articulação intersetorial e de cooperação técnico-científica, visando o fortalecimento do setor no Brasil.

Além disso, existe a expectativa de que, em 2023, finalmente tenhamos a aprovação do PL 7082/2017, popularmente conhecido como Marco Legal da Pesquisa Clínica no Brasil, que, ao estabelecer responsabilidades e obrigações de patrocinadores, pesquisadores e pacientes, traz maior agilidade na análise e no registro de novos medicamentos no País.

Por fim, em 2023, espera-se o aumento da competitividade dos principais centros de pesquisa do país, com a ampliação dos investimentos, tanto em termos de tecnologia quanto de infraestrutura. Nos últimos dois anos, houve a inauguração de unidades de coleta e análise de dados nos principais hospitais e redes do país. Já nos próximos anos, um movimento semelhante deve ocorrer em hospitais de médio porte, além da abertura de centros privados especializados na execução de ensaios clínicos.


Guilherme Sakajiri CEO da Comsentimento, primeira startup do Brasil a usar IA e análise de dados para encontrar as melhores alternativas de tratamentos para pacientes com câncer. O executivo acumula passagens em empresas referências na área da saúde como Optum e Semantix. Formado em Engenharia Naval pela Poli/USP e com MBA pela INSEAD (França e Cingapura), já empreendeu anteriormente à frente da TagFit, uma healthtech focada em diabetes e terapias digitais. O profissional também participa das principais comunidades de padrões de dados e é co-fundador da comunidade OMOP Brasil

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Usamos cookies para personalizar conteúdo e anúncios, fornecer recursos de mídia social e analisar nosso tráfego. Também compartilhamos informações sobre o uso de nosso site com nossos parceiros de mídia social, publicidade e análise. View more
Cookies settings
OK
Não
Nossa Política de Privacidade
Privacy & Cookies policy
Cookie name Active

Quem somos

O endereço do nosso site é: https://agenciapaginaum.mardelivros.com.

Comentários

Quando os visitantes deixam comentários no site, coletamos os dados mostrados no formulário de comentários, além do endereço de IP e de dados do navegador do visitante, para auxiliar na detecção de spam. Uma sequência anonimizada de caracteres criada a partir do seu e-mail (também chamada de hash) poderá ser enviada para o Gravatar para verificar se você usa o serviço. A política de privacidade do Gravatar está disponível aqui: https://automattic.com/privacy/. Depois da aprovação do seu comentário, a foto do seu perfil fica visível publicamente junto de seu comentário.

Mídia

Se você envia imagens para o site, evite enviar as que contenham dados de localização incorporados (EXIF GPS). Visitantes podem baixar estas imagens do site e extrair delas seus dados de localização.

Cookies

Ao deixar um comentário no site, você poderá optar por salvar seu nome, e-mail e site nos cookies. Isso visa seu conforto, assim você não precisará preencher seus dados novamente quando fizer outro comentário. Estes cookies duram um ano. Se você tem uma conta e acessa este site, um cookie temporário será criado para determinar se seu navegador aceita cookies. Ele não contém nenhum dado pessoal e será descartado quando você fechar seu navegador. Quando você acessa sua conta no site, também criamos vários cookies para salvar os dados da sua conta e suas escolhas de exibição de tela. Cookies de login são mantidos por dois dias e cookies de opções de tela por um ano. Se você selecionar "Lembrar-me", seu acesso será mantido por duas semanas. Se você se desconectar da sua conta, os cookies de login serão removidos. Se você editar ou publicar um artigo, um cookie adicional será salvo no seu navegador. Este cookie não inclui nenhum dado pessoal e simplesmente indica o ID do post referente ao artigo que você acabou de editar. Ele expira depois de 1 dia.

Mídia incorporada de outros sites

Artigos neste site podem incluir conteúdo incorporado como, por exemplo, vídeos, imagens, artigos, etc. Conteúdos incorporados de outros sites se comportam exatamente da mesma forma como se o visitante estivesse visitando o outro site. Estes sites podem coletar dados sobre você, usar cookies, incorporar rastreamento adicional de terceiros e monitorar sua interação com este conteúdo incorporado, incluindo sua interação com o conteúdo incorporado se você tem uma conta e está conectado com o site.

Com quem compartilhamos seus dados

Se você solicitar uma redefinição de senha, seu endereço de IP será incluído no e-mail de redefinição de senha.

Por quanto tempo mantemos os seus dados

Se você deixar um comentário, o comentário e os seus metadados são conservados indefinidamente. Fazemos isso para que seja possível reconhecer e aprovar automaticamente qualquer comentário posterior ao invés de retê-lo para moderação. Para usuários que se registram no nosso site (se houver), também guardamos as informações pessoais que fornecem no seu perfil de usuário. Todos os usuários podem ver, editar ou excluir suas informações pessoais a qualquer momento (só não é possível alterar o seu username). Os administradores de sites também podem ver e editar estas informações.

Quais os seus direitos sobre seus dados

Se você tiver uma conta neste site ou se tiver deixado comentários, pode solicitar um arquivo exportado dos dados pessoais que mantemos sobre você, inclusive quaisquer dados que nos tenha fornecido. Também pode solicitar que removamos qualquer dado pessoal que mantemos sobre você. Isto não inclui nenhuns dados que somos obrigados a manter para propósitos administrativos, legais ou de segurança.

Para onde seus dados são enviados

Comentários de visitantes podem ser marcados por um serviço automático de detecção de spam.
Save settings
Cookies settings