Estudo estima mortes provocadas pelo uso de cloroquina contra Covid-19
Pesquisa publicada no último dia 2 pela revista Biomedicine and Pharmacotherapy estimou a quantidade de pessoas levadas à morte pelo uso de hidroxicloroquina (HCQ) como forma de combater a Covid-19. A equipe de estudiosos, liderada pelo professor de clínica médica, especializado em medicina interna no Centro Hospitalar Universitário de Lyon, Jean-Christophe Lega, analisou dados de seis países relativos à primeira onda de Covid-19, entre março e julho de 2020, e chegou à conclusão de que cerca de 17 mil mortes de pacientes hospitalizados poderiam ter sido evitadas, caso cientistas, médicos e agentes de saúde dessas nações tivessem deixado de recomendar esse tipo de tratamento off-label, isto é, não indicado na bula do medicamento. Essa estimativa, relativa a apenas seis países, dá uma ideia da quantidade de óbitos que podem ter sido provocados por sua prescrição em todo o mundo.
Informações obtidas junto a Bélgica, Espanha, Estados Unidos, França, Itália e Turquia serviram de base para a estimativa. Países como Brasil e Índia, que, além de médicos, tiveram a propagação do uso de hidroxicloroquina incentivado por seus governantes, não foram incluídos no estudo devido à não disponibilidade de dados confiáveis.
De acordo com o estudo, em fevereiro e março de 2020, a utilização desse tratamento foi amplamente promovida com base em preliminares que sugeriam uma eficácia potencial contra a Covid-19. O uso de HCQ aumentou acentuadamente de meados de março a meados de abril de 2020 na França, antes que uma recomendação temporária apoiando seu uso pelo Conselho de Estado fosse rapidamente rejeitada. Da mesma forma, a Food and Drug Administration (FDA), a Anvisa norte-americana, concedeu uma autorização temporária de uso emergencial para HCQ em 28 de março de 2020, que foi revogada em 15 de junho de 2020. Na Índia, o HCQ também foi prescrito como tratamento curativo para pacientes com Covid-19 e como tratamento profilático para trabalhadores da linha de frente com base nas orientações das autoridades públicas. As informações indicam uma grande variação no uso de HCQ entre países, com 85% na Espanha, 14% nos EUA e menos de 2% na China. Finalmente, os resultados de estudos observacionais e ensaios randomizados em maio e junho de 2020, respectivamente, demonstraram de forma convincente que o HCQ foi ineficaz e levou a um aumento de eventos adversos.
As conclusões do estudo levam Lega e sua equipe da Universidade de Lyon a defender uma regulamentação rigorosa do acesso a prescrições off-label no caso de futuras pandemias. “Por exemplo, a emissão da autorização de uso emergencial para HCQ pela FDA, que permite a distribuição do medicamento do estoque nacional para o tratamento de pacientes hospitalizados com Covid-19, foi amplamente mal interpretada como uma aprovação da FDA para esta indicação”, ressalta Lega.