
Foto Crédito: Mark Stoop/Unsplash
Pesquisa vencedora de prêmio global prevê redistribuição de espécies e desafios para saúde pública até 2070
Um estudo da Universidade Federal de Sergipe (UFS) sobre os impactos das mudanças climáticas na distribuição de serpentes peçonhentas venceu o Climate and Health Science Communication Award, principal premiação global em comunicação científica sobre clima e saúde. Publicado na renomada revista The Lancet Planetary Health em março de 2024, o artigo Climate change-related distributional range shifts of venomous snakes: a predictive modelling study of effects on public health and biodiversity (“Mudanças climáticas e deslocamento de serpentes peçonhentas: um estudo preditivo sobre impactos na saúde pública e biodiversidade” em português) projeta que, até 2070, alterações nos habitats desses animais aumentarão o risco de acidentes em regiões despreparadas, como norte da Europa e sudeste da Ásia, enquanto a Amazônia e o sul da África perderão espécies.
Liderado pela bióloga Irene Teixeira, egressa da UFS, e supervisionado pelo professor Pablo Martinez, o trabalho destaca que o deslocamento das serpentes pode levar a colapsos na produção de antivenenos – já que cada soro é específico para espécies locais. Populações rurais e de baixa renda serão as mais afetadas, com previsão de aumento de mortes e sequelas permanentes, como amputações. Anualmente, acidentes ofídicos matam dezenas de milhares e deixam cerca de 400 mil pessoas com incapacidades.
“A ciência precisa ser comunicada para salvar vidas. Nosso estudo é um alerta sobre como o desequilíbrio ambiental agrava crises de saúde pública”, afirma Irene. A pesquisa contou com colaboração internacional (Espanha, Alemanha, Costa Rica) e estudantes da UFS.
Para Pablo Martinez, coordenador do laboratório da UFS, o prêmio reforça o papel da universidade na produção de conhecimento estratégico: “É um marco para a América Latina”. O pró-reitor de Pesquisa da UFS, Lucindo Quintans, destacou o alinhamento do trabalho com a Agenda 2030 da ONU.
Com o clima em transformação, o estudo urge por investimentos em vigilância epidemiológica e antivenenos de amplo espectro, antes que novas espécies cruzem fronteiras.