COP 27. Transformações rápidas e de longo alcance pró-clima exigem investir trilhões de dólares/ano
Um dos temas principais desta quarta-feira, 9, na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), foi Finanças. O primeiro período temático teve uma manifestação pública da sociedade civil exigindo um esforço global para que centenas de bilhões de dólares agora investidos em combustíveis fósseis sejam redirecionados, por ano, a iniciativas comunitárias de energia renovável. O “Dia de Finanças” destacou que é preciso investir trilhões de dólares a cada ano para que as necessárias transformações rápidas e de longo alcance sejam obtidas tendo em vista lidar com o impacto da crise climática e cumprir os objetivos do Acordo de Paris.
Disputa por reservas de gás agrava situação em Moçambique
A chamada Zona Azul, principal área do centro de conferências em Sharm el-Sheik, foi ocupada por mais de 50 ativistas. De várias idades e origens, eles exibiam faixas e gritavam “Parem de financiar combustíveis fósseis, parem de financiar a morte”.
Susan Huang, representante da ONG Oil Change Internacional, apelou aos líderes que cumpram seus compromissos e parem de canalizar fundos públicos para combustíveis fósseis. Huang acompanhou no ano passado os trabalhos da cúpula do G7, grupo que reúne as sete principais economias do mundo. Naquela reunião, foi assinado um acordo para pôr fim ao financiamento público de combustíveis fósseis até 2022, o que não se efetivou. Para a Agência Internacional de Energia, a transição lenta para as energias renováveis agrava as crises climática e energética.
Em discurso feito na ocasião, a ativista da ONG Friends of the Earth International, em Moçambique, Dipti Bhatnagar, falou de desapropriações de terras em seu país. Ela advertiu sobre o interesse de “países ricos nas reservas de gás” locais, um dos fatores que teria levado ao aumento de deslocados.
Alerta para quem promove a poluição
Próximo do local, o secretário-geral da ONU António Guterres acompanhou o lançamento do inventário independente de emissões de gases de efeito de estufa, criado pela Coalizão Climate Trace, liderada pelo ex-vice-presidente norte-americano Al Gore.
A ferramenta combina dados com o uso de satélites e da inteligência artificial para mostrar as emissões em nível de instalação de mais de 70 mil locais em todo o mundo, incluindo empresas na China, nos Estados Unidos e na Índia. O recurso permitirá que os líderes conheçam a localização e a finalidade das emissões.
Guterres explicou que os dados gerados pela iniciativa mostram que as emissões são, muitas vezes, até maiores do que o que é reportado. Os desafios são a subnotificação de vazamentos de metano, a queima e outras atividades associadas à produção de petróleo e gás.
Para ele, esse fato deve servir de alerta para tais setores, especialmente os que investem em combustíveis fósseis e promovem a poluição.
Guterres ressaltou que a nova ferramenta será crucial para os líderes empresariais que pretendem descarbonizar suas cadeias de suprimentos, para os governos que trabalham para alinhar políticas com planos climáticos e para os investidores que acompanham o progresso do setor privado em direção à neutralidade da emissão de carbono.
Para o líder das Nações Unidas, o problema é ainda maior do que se crê. Por isso, pediu que o mundo trabalhe ainda mais para acelerar a eliminação de todos os combustíveis fósseis.
Questão de perdas e danos
Salas de conferências, pavilhões e os chamados “centros de ação”, incluindo sessões de negociações a portas fechadas, juntaram delegados, ativistas, banqueiros e outras partes interessadas no debate sobre a importância de se fechar a atual lacuna financeira em áreas críticas da ação climática. As principais são a mitigação, a adaptação e as perdas e danos.
Para os especialistas, a origem do impulso financeiro devem ser os setores público, privado, da dívida ou do patrimônio, ou ainda o comercial e filantrópico.
O fecho da “lacuna de adaptação” foi uma das maiores convocações feitas durante o dia. A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, Unfcc, mobiliza os promotores de projetos e investidores a terem foco na preparação e no investimento de iniciativas sobre resiliência e proteção dos mais vulneráveis contra os impactos negativos das mudanças climáticas.
Outra meta é estimular a mudança sistêmica e a inovação em favor da transformação para carbono zero que seja resiliente ao clima, no contexto de uma transição justa, além da proteção e restauração do capital natural.
Nas promessas e novas iniciativas dos países para financiar perdas e danos, destaca-se o anúncio de 20 milhões de dólares norte-americanos feito pela Nova Zelândia. O desembolso junta-se aos da Escócia, Noruega, Alemanha, Áustria e Bélgica para apoiar economias em desenvolvimento a custear danos de desastre causados pelas mudanças climáticas.
Por sua vez, o Reino Unido declarou que aceitaria que os países atingidos por desastres causados pelo clima tivessem uma prorrogação de seus pagamentos.
Imagem em destaque: Unsplash/Omid Armin