Convivência respeitosa entre humanos e floresta traz bons negócios e mantém a Amazônia de pé
Hoje, 5 de setembro, é o Dia da Amazônia. Dia de reforçar que a floresta não é entrave para o desenvolvimento. Muito pelo contrário, é ela que pode nos colocar na vanguarda da chamada nova economia ou economia de baixo carbono. “Repetir não custa nada, mas silenciar custa, e muito”, diz Daniela Vilela, diretora executiva do FSC Brasil, ramo nacional da FSC, uma organização independente, não governamental, sem fins lucrativos, que promove o manejo florestal responsável ao redor do mundo desde 1994. Com sede na Alemanha, está presente em mais de 80 países. O FSC é o sistema de certificação florestal de maior credibilidade internacional e, segundo a organização, o único que incorpora, de forma igualitária, os interesses de grupos sociais, ambientais e econômicos
Recentemente, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON) divulgou que a Amazônia Legal teve o maior desmatamento em 15 anos. Ainda assim, nada ou quase nada se fala sobre possíveis planos para a região, que tem um potencial, inclusive econômico, imenso. Aliás, a política ambiental também é um ponto crucial para aumentar os investimentos no país, principalmente estrangeiros.
Boas práticas
Conhecimento e exemplos de sucesso não faltam. Investir em produtos compatíveis com a floresta, que podem render cerca de R$ 10 bilhões por ano à Amazônia, é apenas uma das possibilidades. No fim do ano passado, por exemplo, a Associação Agroextrativista das Comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã (AACRDSU), no Amazonas, recebeu o selo FSC para Manejo Florestal e Cadeia de Custódia. A certificação inclui uma área de produção de 44 mil hectares e contempla produtos florestais madeireiros e não-madeireiros que fazem parte da marca coletiva Inatú Amazônia, que contempla uma linha com seis óleos fixos e essenciais feitos a partir da biodiversidade amazônica.
A Amazonbai é outra história de sucesso que pode servir como inspiração e modelo. Por meio do manejo florestal responsável e certificado, os pequenos produtores de açaí do arquipelogo do Bailique e da região do Beira Amazonas, no Amapá, têm colhido outros frutos além do “ouro roxo”. Também neste ano eles conseguiram dois patrocínios internacionais por causa da manutenção dos estoques de carbono e agora se preparam para exportar pela primeira vez. É o mundo, se não abrindo portas para quem produz de forma sustentável, as fechando para que não o faz. Além de alcançar novos mercados, a expectativa é de que haja um retorno econômico mais interessante.
Entre os pequenos, também podemos destacar a cooperativa Garah Itxa, do povo Paiter Suruí, que vive no o território indígena “Sete de Setembro”, em Rondônia. Produtores de castanha certificada FSC, na última safra, eles venderam 40 toneladas do alimento. “Nós, indígenas, tiramos o nosso sustento da própria floresta e demos um passo muito grande ao conseguir a certificação”, conta o líder indígena Rubens Naraikoe Suruí. “Queremos que ela seja reconhecida e que possamos vender por um preço justo no mercado nacional e internacional”.
Convivência respeitosa
A principal condição para uma coexistência respeitosa – entre humanos e florestas – é o respeito ao uso múltiplo da terra. Segundo Daniela, “há espaço para todos”. A madeira, por exemplo, que já é mais comumente explorada, é um recurso natural nobre, renovável, que pode ser extraído de forma responsável. Usar a boa madeira, certificada, com garantia de origem, é uma forma muito eficiente de preservar as nossas florestas. E tanto a Coomflona – Cooperativa Mista da Flona do Tapajós, no Pará, quanto a Mil Madeiras Preciosas, no Amazonas, mostram isso na prática, ainda que em diferentes escalas.
A Coomflona tem o selo FSC 100% comunitário desde 2013 e reforça a importância dos moradores da região na conservação da floresta. Dois anos depois da certificação, eles começaram a ser procurados por empresas interessadas em comprar madeira certificada, principalmente, para exportar. Além de mais clientes, o preço do metro cúbico da madeira em tora passou de R$ 230,00 em 2014 para R$ 415 agora. Nesse meio tempo, eles construíram uma serraria e uma movelaria, agregando valor aos seus produtos. Ali, a certificação também contribui para a melhoria nos processos de exploração, gestão e responsabilidade socioambiental.
Já a Mil Madeiras, no município de Itacoatiara, no Amazonas, foi a primeira certificação de manejo de nativas no Brasil. Mais recentemente, eles obtiveram ainda os procedimentos de serviços ecossistêmicos para manutenção dos estoques de carbono e conservação dos recursos hídricos. A Mil explora madeira e, com os resíduos, fornece energia para cerca de 60% da cidade. Eles também doam sobras da produção para a Oficina Escola de Lutheria da Amazônia (OELA), uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que ensina jovens de baixa renda a produzir instrumentos musicais de cordas dedilhadas e caixa de ressonância, com madeiras amazônicas manejadas e certificadas.
Conservar a Amazônia de pé, além de dar lucro e promover o desenvolvimento social e ambiental do país, é uma maneira barata de controlar as mudanças climáticas. Junto com os oceanos, as florestas são os principais ecossistemas que o planeta usa para remover o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. Quase 2,6 bilhões de toneladas, ou um terço de todo o CO2 liberado de combustíveis fósseis, são absorvidos pelas florestas todos os anos. E nem falamos sobre o – ainda – incipiente mercado de carbono.
São muitas as alternativas e as oportunidades. Mas todas, sem excessão, passam pela floresta em pé, ressalta Daniela.
Imagem em destaque: Floresta – FSC/Diviulgação.