Ativistas pedem que Banco Mundial cancele empréstimo para expansão da pecuária

Ativistas pedem que Banco Mundial cancele empréstimo para expansão da pecuária
Manifestação em frente ao Banco Mundial em São Paulo. Foto Crédito: Sinergia Animal/Daniela-Ferreira.

Ativistas da ONG Sinergia Animal e da campanha Parem o Financiamento da Pecuária Industrial realizaram um protesto em frente ao escritório da Corporação Financeira Internacional (IFC) em São Paulo, na última quinta-feira (26), exigindo o cancelamento de um empréstimo proposto para financiar um confinamento de gado na Mongólia. O projeto massivo, que pode importar soja do Brasil, gerou indignação por seu potencial dano ambiental e ao bem-estar animal. A IFC, um ramo do Banco Mundial financiado por impostos pagos por cidadãos ao redor do mundo, inclusive no Brasil, enfrenta crescente crítica por apoiar esse tipo de iniciativa controversa e deve tomar a decisão final sobre o financiamento hoje, 30 de setembro.

Os manifestantes seguraram um banner com a frase “Banco Mundial: quando vão parar de financiar a destruição?” e entregaram à instituição financeira uma onça de pelúcia com patas enfaixadas, deitada em uma cama de carvão, simbolizando suas patas queimadas e o impacto devastador dos recentes incêndios no Pantanal, Cerrado e Amazônia. Frequentemente provocados pelo desmatamento para a pecuária, esses incêndios são consequências reais da expansão irresponsável da produção de ração para a pecuária industrial, afirma a ONG.

Uma carta aos executivos do IFC, assinada por 77 associações da sociedade civil de 30 países diferentes, incluindo cinco entidades da Mongólia, também foi entregue à instituição com o projeto. Essa oposição é a mais recente de uma série de protestos contra o financiamento de projetos de pecuária industrial pela campanha global Stop Financing Factory Farming. No início deste ano, a campanha entregou uma petição ao Banco Mundial assinada por 280 grupos em 60 países,  instando o Banco a interromper seus investimentos prejudiciais na pecuária industrial e mudar seu financiamento para uma produção de alimentos mais sustentável.  

“A expansão das operações de confinamento de gado na Mongólia e em outros países aumenta a demanda por grãos como a soja, que é amplamente produzida no Brasil. Essa demanda pode agravar ainda mais o desmatamento na Amazônia e no Cerrado, levando a mais incêndios em grande escala e outros desastres naturais. É inaceitável que o Banco Mundial e a IFC usem os nossos impostos para financiar esse modelo agrícola destrutivo”, disse Carolina Galvani, diretora executiva da Sinergia Animal. “A onça com patas enfaixadas representa os incontáveis animais selvagens que foram queimados e perderam suas vidas durante os incêndios recentes”, acrescentou. 

A situação no Brasil é alarmante. Ao menos 619 animais selvagens já foram resgatados dos recentes incêndios e o real impacto é imensurável. De acordo com o Ibama, ainda não há números oficiais sobre as mortes de animais selvagens, mas a magnitude da seca e dos incêndios sublinha a gravidade da situação. Entre as espécies impactadas estão lobos-guarás, onças-pintadas, araras azuis e tamanduás-bandeira. 

O projeto de financiamento ao confinamento na Mongólia, um empréstimo de 60 milhões de dólares para a empresa Metagro, relata que poderia depender da importação de grãos como a soja para alimentar os animais — muitas vezes obtida de países que enfrentam severa destruição ambiental, como o Brasil. A expansão da agricultura industrial e da produção de ração nessas áreas resultou em um desmatamento massivo, perda de biodiversidade e aumento das emissões de carbono. Segundo a Sinergia Animal, essa ligação entre a pecuária industrial internacional e o desmatamento significa que o dinheiro dos contribuintes contribui indiretamente para desastres ambientais ao redor do mundo, incluindo no Brasil.

“Esses incêndios não são apenas acidentes; são um subproduto do desmatamento e da limpeza de terras para a agricultura, frequentemente para cultivar ração para gado criado em outros países”, acrescentou Galvani. “À medida que mais terras são desmatadas para a produção de soja, maior a pressão para que nossos ecossistemas sejam destruídos e as emissões de carbono aumentem, agravando a crise climática.”

Além disso, a ONG ressalta que o Banco Mundial se tornaria contraditório ao financiar tais projetos, uma vez que seu relatório recente “Recipe for a Livable Planet” destaca a urgência de combater as mudanças climáticas, proteger a biodiversidade e garantir a segurança alimentar. O documento reconhece a pecuária industrial como um dos maiores contribuintes para as emissões de gases de efeito estufa, a degradação do solo, o desmatamento e o consumo excessivo de água. 

A Sinergia Animal aponta ainda que os confinamentos não são os sistemas ideais para o bem-estar animal, pois mantêm os animais em  condições de superlotação, levando a estresse, ferimentos e maior risco de doenças para os animais. A concentração de milhares de bovinos nesse sistema também torna difícil fornecer cuidados veterinários adequados, frequentemente deixando animais doentes sem tratamento e levando a mortes precoces. Outro fator preocupante, segundo a organização, é que  os bovinos naturalmente se alimentam de grama, mas nos confinamentos são alimentados com grãos, o que causa problemas digestivos como inchaço, acidose e, em alguns casos, morte.

Como parte de sua campanha, a Sinergia Animal está incentivando o público a enviar e-mails para a IFC e o Banco Mundial, exigindo que o empréstimo não seja considerado para aprovação. A entidade enfatiza que financiamentos que usam dinheiro público devem ser direcionados a sistemas alimentares sustentáveis que protejam tanto os animais, quanto o planeta, em vez de alimentar indústrias que levam ao desmatamento, incêndios e perda de biodiversidade vital.

Dados relevantes

  1. Uma análise da MapBiomas revelou que o cultivo de soja no Brasil passou de cerca de 1 milhão de hectares para 7 milhões de hectares entre 1985 e 2022.
  2. Nos últimos 5 anos, 97% da perda de vegetação nativa no Brasil teve a expansão agropecuária como vetor, segundo o Relatório Anual do Desmatamento do MapBiomas.
  3. Em 2023, o Cerrado se tornou o bioma mais desmatado do Brasil, e a produção de soja é um fator chave da expansão do agronegócio na região. A região conhecida como Matopiba, distribuída entre o Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, sozinha, ultrapassou a área desmatada nos estados da Amazônia e respondeu por 47% da perda de vegetação nativa no Brasil.
  4. Um levantamento realizado pela plataforma de transparência Trase em parceria com o Imaflora, em 2022, apontou que a Amazônia segue sob forte ameaça da expansão do cultivo da soja. Em 2020, 133 mil hectares de soja foram colhidas de áreas desmatadas após 2008 na Amazônia, em contradição com a Moratória da Soja .
  5. De acordo com a ONU, nosso sistema alimentar global é o principal responsável pela perda de biodiversidade, sendo a agricultura a ameaça identificada para 24.000 das 28.000 (86%) espécies em risco de extinção.
  6. Cientistas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) alertaram que fatores como intensificação agrícola, aumento da demanda por proteína animal, desmatamento e mudanças climáticas podem levar ao surgimento de novas pandemias que se originam em animais antes de se espalharem para humanos, semelhantes à Covid-19 (ou novo coronavírus).
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