Animais repovoam áreas degradadas da Mata Atlântica em São Paulo
Desde 2017, foram replantados 430 hectares de Mata Atlântica na região da Nova Tamoios, no estado de São Paulo, em uma área que se estende desde a região do porto de Santos até a divisa com o estado do Rio de Janeiro. O projeto, que recuperou e reconectou áreas, é o maior desde 2015 e realizou o plantio de 830 mil mudas, de 290 espécies, além de ter restabelecido a presença da fauna nativa nas proximidades do Parque Estadual da Serra do Mar, em região onde ela havia desaparecido, de acordo com Antônio Borges, responsável por sua execução.
Ele aponta que a presença de animais como antas, diferentes espécies de serpente, bicho-preguiça, porco-do-mato e muitas aves características do bioma são um excelente indicativo de sucesso do trabalho.
Embora não seja considerado um parâmetro legal, no estado de São Paulo, para que a área seja considerada restaurada e possa ser “abandonada”, essa presença é de extrema importância para a perpetuação da floresta. Assim como a diversidade de espécies e o fechamento de copas, por exemplo, que requer a produção de sombra em mais de 80% da área, já observados onde o projeto atuou.
Borges destaca que o mais importante foi o trabalho de conexão da fauna e também a retirada de vegetação exótica, permitindo que a vegetação do lugar se recomponha. Ele explica que, embora houvesse vários fragmentos de mata atlântica protegidos na região, entre eles havia trechos degradados ou de manejo de plantas exóticas, como o eucalipto.
Foram escolhidas áreas de alta prioridade para ações específicas, como a “morte em pé” dos eucaliptos, técnica que permite a retirada dessa vegetação exótica sem que o sub-bosque fosse afetado. “A ideia é melhorar a capacidade dessas áreas de preservação para que a gente garanta a resistência do bioma Mata Atlântica do Brasil, por mais muitos anos” – esclarece.
Entre as principais espécies plantadas estão o pau-marfim, Balfourodendron riedelianum, o jequitibá-rosa, Cariniana legalis, o cambuci, Campomanesia phaea, e o ipê-felpudo, Zeyheria tuberculosa, espécies próprias do bioma. Além delas, centenas de outras espécies foram plantadas, respeitando o relevo de cada área. “Foi feito um trabalho de mapeamento em busca de viveiros em um raio de até 100 km do projeto, para que as sementes e mudas das matrizes já fossem acostumadas com o clima da região e tenham uma resistência maior”, explica.
O bioma que mais sofreu
Quase 70% da população brasileira estão no bioma da Mata Atlântica, sendo o mais habitado do país. Por isso mesmo, é o que mais perdeu vegetação nativa, além de sofrer com a escassez hídrica e a degradação do solo, segundo um estudo feito pela Fundação SOS Mata Atlântica.
A restauração de florestas foi vista como a ação do século pela ONU (Organização das Nações Unidas) e tida como fundamental diante da história de degradação que o mundo construiu no passado, porém, na visão de Ricardo Rodrigues, professor titular do Departamento de Ciências Biológicas da ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da Universidade de São Paulo, ela não pode ser usada para futuras degradações. “A restauração nunca vai chegar perto, em termos de estrutura, funcionamento e provimento de serviços ecossistêmicos de um remanescente natural”, conclui.
Com informações da Agência Brasil. Foto: Divulgação PlantVerd