
Foto Crédito: Noah Buscher/Unsplash
O abuso psicológico é uma forma de violência silenciosa que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), afeta 1 em cada 3 mulheres globalmente ao longo da vida. Embora não deixe marcas físicas, suas consequências incluem depressão, ansiedade e risco elevado de suicídio. No Brasil, dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) revelam que 76% das mulheres vítimas de feminicídio sofreram violência psicológica prévia (Mapa da Violência, 2022).
O que é abuso psicológico?
De acordo com o Relatório Global da OMS sobre Violência Contra a Mulher (2021), o abuso psicológico envolve padrões repetidos de controle, humilhação e manipulação que corroem a autonomia da vítima. Entre os comportamentos mais comuns estão:
- Isolamento social: restrição de contato com familiares e amigos;
- Desvalorização sistemática: críticas a aparência, inteligência ou habilidades;
- Controle financeiro: limitação de acesso a recursos ou criação de dependência econômica;
- Ameaças diretas ou indiretas: chantagens emocionais ou ameaças de violência.
A Dra. Maria da Penha Fernandes, símbolo da luta contra a violência doméstica, ressalta:
“O abuso psicológico é a raiz de ciclos de violência. Muitas mulheres só percebem que são vítimas anos depois, quando a autoestima já foi destruída.”
Sinais de Alerta
Estudos da American Psychological Association (APA) identificaram os seguindicadores:
- Culpa internalizada: A vítima assume responsabilidade pelos conflitos, mesmo quando não há lógica (exemplo: “Ele fica bravo porque eu não sirvo para nada”).
- Autoisolamento: Redução de interações sociais por medo de julgamento ou represálias.
- Sintomas psicossomáticos: Dores de cabeça, insônia e distúrbios gastrointestinais sem causa médica clara (Fonte: Journal of Trauma & Dissociation, 2020).
- Dependência emocional: A vítima acredita que “precisa do agressor para sobreviver”, mesmo em situações de risco.
Por que as mulheres são as principais vítimas?
Fatores estruturais explicam a prevalência:
- Cultura machista: 58% dos brasileiros ainda acreditam que “roupas curtas justificam assédio” (Instituto Patrícia Galvão, 2023).
- Desigualdade econômica: Mulheres ganham 20% menos que homens no Brasil (IBGE, 2023), o que facilita o controle financeiro por parceiros abusivos.
- Normalização da violência: 45% das mulheres não denunciam agressões por medo de represálias ou descrédito (FBSP, 2023).
A Dra. Jackeline Romio, pesquisadora da Fiocruz, explica:
“A violência psicológica é invisibilizada porque se confunde com ‘ciúme comum’ ou ‘proteção excessiva’. Mas é uma tática de dominação que precede agressões físicas em 82% dos casos.”
Como sair do ciclo de abuso?
- Busque redes de apoio: Organizações como a Central de Atendimento à Mulher (Disque 180) oferecem orientação sigilosa e auxílio jurídico.
- Documente provas: Mensagens ofensivas, gravações e testemunhos são cruciais para processos judiciais (Lei Maria da Penha, Art. 22).
- Acesso a recursos públicos:
- CREAS: Apoio psicológico e social gratuito;
- Delegacias da Mulher (DEAMs): Atendimento especializado em todos os estados;
- App Direitos Humanos BR: Denúncias silenciosas via celular.
- Apoio terapêutico: Projetos como “Elas por Elas” (ONU Mulheres) conectam vítimas a psicólogas voluntárias.
Não é culpa da vítima!
A Lei 14.188/2021 (Lei do Feminicídio) reconhece a violência psicológica como agravante penal. Como afirma a Dra. Ana Liési Thurler, especialista em gênero da UnB:
“Romper o silêncio é um ato político. A sociedade precisa entender que abuso emocional não é ‘briga de casal’ – é crime.”
Fontes
- Organização Mundial da Saúde (OMS). Violence against women prevalence estimates, 2018. Disponível aqui.
- Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Anuário da Violência 2023. Link.
- Instituto Maria da Penha. Dados sobre violência psicológica. Link.
- Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006). Art. 7º, II.