A inteligência requintada de João Cabral a serviço dos regionalismos, no Brasil e fora dele
Chega às livrarias uma edição especial de Morte e Vida Severina, em comemoração aos 60 anos de sua primeira publicação. O poema mais conhecido de João Cabral de Melo Neto, mudou os rumos da poesia no Brasil e dá voz aos retirantes nordestinos e ao rio Capibaripe, em cenas fortes e contundentes. Clara crítica social, o autor descreve a viagem de um sertanejo chamado Severino, que sai de sua terra natal em busca de melhores condições de vida. Durante a jornada, Severino se encontra tantas vezes com a Morte que, desiludido e impotente, percebe que a luta é inútil — como ele, tantos outros severinos padecem com a miséria e o abandono. Apenas o nascimento de um bebê, uma criança-severina, renova as esperanças e o espírito cansado daquele que já não tinha motivos para continuar a viver.
O lançamento oficial da edição, em capa dura, conta com a presença, no Rio de Janeiro e em São Paulo, de Inez Cabral, filha de João.
Outro livro de João Cabral foi lançado recentemente pela Alfaguara: A Literatura como Turismo.
Ao longo de seus quase cinquenta anos de carreira diplomática, João Cabral de Melo Neto morou em países como Espanha, Inglaterra, Senegal, Equador e Honduras. A cultura e a paisagem desses lugares marcaram sua poesia de forma expressiva. Sevilha talvez tenha sido a cidade mais cantada pelo poeta, mas não foi, de modo algum, a única. No Equador, por exemplo, o fascínio pela natureza e os índios dos Andes produziram joias como “O corredor de vulcões” e “O índio da Cordilheira”. Entrelaçados a esses poemas, os relatos memorialistas de Inez Cabral revelam ao leitor aspectos cotidianos da vida de João: seus hábitos, opiniões e gostos.