A difícil investigação sobre a origem do óleo que polui as praias do Nordeste brasileiro

Características do óleo que está chegando às praias do Nordeste têm moléculas que trazem a história de sua formação. Foto: Marcos Rodrigues – Governo de Sergipe

O derramamento de óleo que vem poluindo o litoral do Nordeste brasileiro está sendo considerado o maior desastre ambiental já registrado na história. Outras tragédias de grande relevância foram o acidente em uma refinaria no Paraná e o rompimento de um duto de uma refinaria no Rio de Janeiro. No caso do Paraná, houve o vazamento de 4 milhões de litros de óleo cru. No caso do Rio de Janeiro, houve o despejo de 1,3 milhão de litros de óleo combustível e graxa na baía da Guanabara. Os dois episódios aconteceram em 2000. No caso dos mares e praias nordestinos, até o momento, segundo a Marinha, foram retiradas 900 toneladas de óleo.

Para Alberto Wisniewski, professor e pesquisador do Departamento de Química da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a principal diferença entre as tragédias anteriores e a atual é que, em 2000, sabia-se a origem e a dimensão do ocorrido, o que facilitou o combate à poluição e a atenuação de seus efeitos. Alberto, paranaense, lembra do primeiro caso e confirma a excepcionalidade da situação de hoje.

Wisniewski é um dos especialistas que vem analisando as amostras dos óleos das praias do Nordeste usando técnicas que permitem chegar às moléculas que são a “impressão digital” desse óleo, fazem parte da história de sua produção e levantam pistas cientificamente seguras de qual é a sua origem.

“Essas moléculas estão junto desse óleo desde quando se supõe que tenha sido criado – então, há 140 milhões de anos. Elas têm uma associação com algumas matérias orgânicas específicas e trazem essa história junto com o óleo desde a sua origem até os dias de hoje”, explica.

O elo entre óleo e barris

Químico da Universidade Federal de Sergipe defende que óleo tem ligação com barris encontrados. Foto Marcos Rodrigues – Governo de Sergipe

Dois barris foram trazidos pelo mar a praias sergipanas: um na capital, Aracaju, e o outro na Barra dos Coqueiros, cidade vizinha. Um terceiro foi encontrado em Alagoas. Eles continham um produto visualmente semelhante ao que estava poluindo o litoral. Esses barris possuem inscrições feitas à mão e a logomarca de uma empresa que produz e comercializa combustíveis. A ligação entre o material poluente e esses barris poderia orientar as investigações.

Inicialmente, a Marinha apontou que o óleo das praias não era similar ao óleo encontrado nos barris. Foi Alberto quem defendeu que a relação entre os óleos das praias e os dos barris não podia ser descartada, embora, efetivamente, fossem produtos distintos. As pesquisas de Wisniewski fizeram Ricardo Salles, atual ministro do Meio Ambiente, visitar a UFS, no último dia 16, para ouvir diretamente do cientista por que não.

Por conta do trabalho da equipe de Wisniewski, as investigações estão considerando os barris na apuração do ocorrido. Tanto que, em resposta às autoridades brasileiras, o fabricante já teria informado que empresas do seu grupo comercializaram o produto inicialmente contido nos tonéis. Embora afirme que não tem responsabilidade sobre o reuso dos mesmos, eles continham, originalmente, lubrificante para motores navais.

Óleo venezuelano?

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aponta que o óleo derramado possui DNA venezuelano. Um laboratório da Universidade Federal da Bahia também indicou uma “forte correlação” entre o óleo das praias e uma amostra de óleo da Venezuela armazenado em seu Banco de Óleos e com análises de óleos do país vizinho disponíveis em publicações científicas.

Contudo, Alberto Wisniewski ainda tem dúvidas sobre a origem do produto. Sua equipe também está pesquisando de que bacia esse óleo foi retirado, mas, como diz, é difícil alcançar um resultado conclusivo.

O pesquisador explica que uma única bacia sedimentar pode produzir, em seus diversos campos, óleos com características diferentes. A existência de uma amostra de um determinado óleo, como o venezuelano, facilita a análise porque permite comparar. Assim como ao ser comparado com análises presentes na literatura (publicações científicas). No entanto, observa Wisniewski, o petróleo não costuma sair de uma bacia e ser comercializado de forma crua.

“O óleo venezuelano, por exemplo, não é comercializado estritamente de um ponto. Então, por exemplo, sabe-se que o mais comum na Venezuela é comercializar o óleo Mery, que é uma mistura do óleo pesado com um óleo leve deles, que agrega valor. Então, na verdade, quando você vai avaliar, já não é o próprio óleo de uma bacia específica de lá, é um óleo misturado. E isso naturalmente dificulta esse tipo de trabalho, como eu comentei, porque você pode ter informações equivocadas”, ressalta.

Wisnkieski destaca que o trabalho de química forense não aponta conclusões, apenas apresenta indícios para subsidiar investigações. “A gente só levanta evidências, indícios e provas. As conclusões ficam por conta de um juiz”, lembra.

Atualização

O Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), formado pela Marinha do Brasil (MB), Agência Nacional de Petróleo (ANP) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou no sábado, 2 de novembro, que 4 mil toneladas de óleo foram retirados dos locais atingidos desde 2 de setembro, quando as manchas de óleo começaram a aparecer nas praias nordestinas. O descarte desse material é feito pelas secretarias de Meio Ambiente dos estados.

Com informações de Marcílio Costa, Assessoria de Comunicação da UFS

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