
Foto Crédito: Solen Feyissa/Unsplash
Após receber elogios de programadores e outros especialistas, transformar um de seus modelos de assistentes virtuais (chatbot) em um dos mais baixados nas lojas on-line e causar a abrupta queda do valor das ações de algumas das principais empresas de tecnologia do mundo, a startup chinesa DeepSeek começa a enfrentar a desconfiança de consultorias de segurança em Inteligência Artificial e a resistência de governos mundo afora.
Estudo realizado pela Enkrypt AI revelou taxas de recusa surpreendentemente altas e acentuado viés geopolítico, especialmente quando as questões envolviam a China. A empresa especializada em segurança de IA escolheu 12 incidentes históricos notáveis – extraídos da Wikipedia – e comparou as respostas dadas pelo DeepSeek em três de suas versões (Chat, R1 e Distilled Llama 8B) com as de outros modelos populares (OpenAI O1, Claude Opus e Claude Sonnet).
A “taxa de censura” do DeepSeek Chat atingiu 88%. Em outras palavras: quase 9 em cada 10 perguntas tiveram como retorno “lamentamos, mas não podemos atender a essa solicitação”. Em consultas relativas à China, o DeepSeek R1 forneceu mais respostas, mas em 114 das 125 consultas, ele favoreceu a perspectiva chinesa.
Outra empresa de segurança cibernética afirma ter encontrado um código intencionalmente oculto que poderia enviar detalhes de login do usuário para a China Mobile, uma empresa de telecomunicações estatal. A Nasa e o Pentágono, por exemplo, já tomaram providências nesse sentido. Em um comunicado a seus funcionários, a Nasa destaca que os servidores da startup chinesa “operam fora dos Estados Unidos, levantando preocupações em relação à privacidade e à segurança nacional”. Deputados norte-americanos preparam um projeto de lei para impedir que o DeepSeek seja usado em dispositivos de todo o governo, seguindo o exemplo de outros países
Fora dos órgãos governamentais
Na terça-feira, 4, o governo da Austrália anunciou a proibição do uso de produtos, aplicativos e serviços da DeepSeek em computadores e dispositivos móveis pertencentes ao estado. Com a medida, servidores públicos de todos os órgãos governamentais federais, exceto de organizações corporativas como a operadora postal e logística Australia Post e a empresa pública de comunicação ABC, terão que remover imediatamente qualquer produto da DeepSeek dos aparelhos estatais.
Segundo noticiou a ABC, a decisão atende às recomendações de agências de segurança e de inteligência que apontaram que a plataforma chinesa representava “um risco inaceitável” para o poder público. O governo australiano, contudo, não detalhou até o momento quais seriam esses riscos.
Nos últimos dias, Taiwan e Itália também proibiram funcionários públicos de usar os produtos da DeepSeek em dispositivos governamentais.
Taiwan apontou a necessidade de “proteger a segurança nacional da informação”, abrindo uma exceção na restrição de uso do chatbot da DeepSeek para instituições de ensino e pesquisa, com a recomendação de que, sempre que possível, os pesquisadores baixem os aplicativos chineses em máquinas que não contenham informações sensíveis e/ou estratégicas.
Já a autoridade italiana de proteção de dados (GPDP) determinou que os responsáveis pela DeepSeek restrinjam o processamento de informações de usuários italianos, em conformidade com as leis de proteção nacionais, e instaurou um processo para apurar a atuação da empresa chinesa no país.
Perigo não é exclusivo
No último dia 29, a ministra das Comunicações da Austrália, Michelle Rowland, afirmou, em entrevista à Sky News, que o armazenamento das informações pessoais feito por DeepSeek e outras empresas de tecnologia preocupa as agências de segurança daquele país. “Certamente, continuaremos a monitorar isso. E tenho certeza de que países com ideias semelhantes farão o mesmo”, comentou a ministra, destacando que as inovações tecnológicas emergentes geram oportunidades, desafiando os atuais modelos de negócios, mas também preocupações quanto à privacidade e a segurança das pessoas.
Em abril, o governo australiano proibiu o uso do TikTok em dispositivos móveis e computadores de órgãos federais, com os mesmos argumentos apresentados para banir o DeepSeek.