As mulheres na visão de um pensador do século 17
Se as mulheres fossem, por natureza, iguais aos homens, se tivessem no mesmo grau a força de alma e as qualidades de espírito que são, na espécie humana, os elementos do poder e, consequentemente, do direito, certamente, entre tantas nações diferentes, não se poderia deixar de encontrar umas em que os dois sexos reinassem igualmente e, ainda menos, que os homens sejam regidos pelas mulheres. Se, além disso, considerarmos as paixões humanas, se reconhecermos que quase sempre o amor dos homens pelas mulheres não tem outra origem senão o desejo sensual, de tal modo que não apreciam nelas as qualidades de espírito e prudência, mas as da beleza que têm, que não admitem que as mulheres amadas tenham preferência por outros que não eles, ver-se-á, sem esforço, que não se poderia instituir o reinado igual dos homens e das mulheres sem grande prejuízo para a paz.
(Baruch de Espinosa, Tratado Político, capítulo XI, parágrafo 4. Tradução de Marilena Chauí, Abril Cultural, SP, Os Pensadores. Vol. 17, agosto de 1973)
Espinosa. Considerado um dos grandes filósofos do século 17, nasceu em Amsterdâ, Holanda, em 24 de novembro de 1632 e faleceu em Haia, Holanda, aos 44 anos, no dia 21 de fevereiro.