Médicos Sem Fronteiras pede que Mercosul atue pelo fim da guerra em Gaza

Médicos Sem Fronteiras pede que Mercosul atue pelo fim da guerra em Gaza
Um homem leva seus filhos por terras bombardeadas na Faixa de Gaza durante a pausa humanitária temporária. Foto Crédito: Unrwa/Ashraf Amra

Aproveitando que os presidentes dos países que formam o Mercosul estão reunidos no Rio de Janeiro, de 4 a 7 de dezembro, a organização Médicos Sem Fronteiras enviou a eles uma carta aberta pedindo que façam de tudo para assegurar um cessar-fogo imediato e permanente na Faixa de Gaza. De acordo com a entidade, é preciso que a comunidade internacional exija que o governo de Israel cesse imediatamente os ataques mortais contra civis palestinos e permita que ajuda humanitária crucial ingresse no território. No Brasil, além da carta, MSF também está promovendo uma petição para reforçar esse pedido. Acesse aqui: chng.it/GvRsvqTQ7D

Leia a carta enviada aos líderes do Mercosul:

“Excelentíssimos Senhores Presidentes,

Médicos Sem Fronteiras clama aos líderes dos Estados-membros do Mercosul que façam tudo que estiver ao seu alcance para assegurar um cessar-fogo imediato e permanente na Faixa de Gaza. É preciso que a comunidade internacional exija que o governo israelense cesse imediatamente os ataques mortais contra civis palestinos e permita que ajuda humanitária crucial ingresse em Gaza.

MSF enviou recentemente uma equipe internacional de emergência a Gaza para dar apoio aos nossos profissionais palestinos na prestação de cuidados médicos e cirúrgicos em unidades de saúde. Lamentavelmente, suas atividades têm sido severamente limitadas devido ao enorme número de vítimas, destruição da infraestrutura de saúde, falta de suprimentos essenciais, como combustível, e o clima de insegurança constante.  Neste momento, atender as necessidades humanitárias é simplesmente impossível devido ao cerco e às ações bélicas generalizadas e incessantes levadas a cabo por Israel.

Nossa equipe de emergência em Khan Younis, no sul de Gaza, tem registrado um fluxo maciço de feridos por bombardeios e ataques aéreos intensos, incluindo em campos de refugiados precários e superlotados, onde as pessoas mal conseguem sobreviver com a ajuda humanitária escassa disponível. Essas pessoas estão sujeitas não só a bombardeios, mas também a doenças infecciosas e fome. No sábado passado, 60 mortos e 213 feridos deram entrada na emergência do hospital de Al-Aqsa. Na Cisjordânia, nossas equipes médicas também têm registrado ataques a instalações de saúde, com aumento da violência, tanto pelas Forças de Defesa Israelenses (FDI) quanto por colonos, o que, de acordo com as Nações Unidas, resultou em mais de 200 palestinos mortos desde 7 de outubro.  

Os profissionais de Médicos Sem Fronteiras, assim como tantas pessoas ao redor do mundo, estão estarrecidos e consternados com os ataques do Hamas contra civis israelenses. Agora, após quase dois meses, nos faltam palavras para descrever o horror absoluto ao qual Israel está submetendo civis palestinos enquanto leva a cabo ataques militares incessantes e indiscriminadas em Gaza à vista de todo o mundo. 

Israel tem demonstrado um desrespeito flagrante e total à proteção de instalações médicas em Gaza. Estamos presenciando hospitais serem transformados em necrotérios ou mesmo ruínas. Estruturas de saúde estão sendo atingidas por bombardeios, tanques e disparos de armas de fogo, sendo cercadas e invadidas, ao mesmo tempo que pacientes e equipe médica são mortos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) documentou 203 ataques a instalações de saúde, resultando em 22 mortes e 59 trabalhadores da saúde feridos em serviço. Quatro integrantes da equipe de MSF foram mortos e muitos outros perderam familiares. Um grande número de colegas foi ferido. Outras organizações humanitárias também registraram a morte de dezenas de integrantes de suas equipes.

Os profissionais de saúde, incluindo nossa própria equipe, estão totalmente exaustos e desesperados. Eles tiveram de amputar membros de crianças sem anestesia nem instrumentos cirúrgicos esterilizados.  Ademais, devido a evacuações impostas por soldados israelenses alguns médicos tiveram de deixar pacientes para trás e enfrentaram uma escolha inimaginável: suas vidas ou a de seus pacientes. Não há justificativa razoável para atos tão cruéis. 

Desde o início de sua campanha militar, o governo israelense impôs um “cerco total” sobre Gaza, impedindo a entrada de água, comida, combustível e suprimentos médicos para 2,3 milhões de civis encurralados no enclave. Além disso, restrições desumanas têm impedido que ajuda humanitária extremamente necessária possa chegar a quem mais necessita. Submeter toda uma população a punição coletiva é um crime de guerra de acordo com o Direito Internacional Humanitário (DIH). 

Os ataques de Israel não estão sendo apenas inflingidos contra o Hamas, estão sendo efetuados sobre todo o território de Gaza e sua população, a qualquer custo. Mesmo as guerras têm regras, mas Israel está claramente trocando-as por sua própria estratégia militar baseada na desproporcionalidade. Nos dias iniciais desta ofensiva inimaginável, um porta-voz das Forças de Defesa Israelenses anunciou que a “ênfase” dessa retaliação flagrantemente excessiva seria “nos danos e não na precisão”. Estamos testemunhando o princípio fundamental de Humanidade ser abertamente violado.   

O Norte de Gaza está sendo varrido do mapa. O sistema de saúde colapsou. Mais de 15 mil pessoas foram mortas, metade delas crianças, de acordo com as autoridades de saúde de Gaza. Isso representa uma em cada 200 pessoas em Gaza. Dezenas de milhares estão feridos. Famílias estão buscando seus entes queridos mortos sob escombros. De acordo com as Nações Unidas, ao menos 1,8 milhão de pessoas foram deslocadas, esses civis receberam ordens de Israel para se deslocar de maneira forçada para o sul, mas bombardeios israelenses também estão ocorrendo nessa região. Nenhum lugar é seguro. 

A pausa nas hostilidades por sete dias foi o primeiro sinal de humanidade depois de semanas de violência ininterrupta, porém ela não significou de maneira alguma uma solução e ao fim deste período, os bombardeios recomeçaram. Qualquer pausa para a população de Gaza é bem-vinda, especialmente se isso lhe der acesso a suprimentos médicos, comida e água. Apesar disso, considerando as necessidades imensuráveis, estes poucos dias de trégua não são o bastante para organizar a entrega de ajuda humanitária capaz de suprir as enormes necessidades.

Pedimos aos líderes dos Estados-membros do Mercosul que ampliem sua voz e utilizem sua pressão diplomática para convencer o Estado de Israel de que a sentença de morte imposta ao povo de Gaza é desumana e indefensável. Até agora, a pressão internacional não tem sido eficiente para deter as atrocidades que estão sendo cometidas em Gaza. Precisamos que a comunidade internacional faça mais do que discursos e comunicados oficiais sobre a necessidade de “respeitar a proteção de civis” e “o Direito Internacional Humanitário”.

Cada um dos líderes dos Estados-membros do Mercosul deve ser parte da solução e utilizar de todos os meios ao seu alcance para impedir que o massacre continue.  É necessário e urgente que: 

  • Os ataques indiscriminados e incessantes parem agora;  
  • Os deslocamentos forçados parem agora;  
  • Os ataques a hospitais e equipes médicas parem agora;  
  • O cerco e as restrições à ajuda humanitária parem agora;  

Todas as violações têm de cessar imediatamente. 

Um cessar-fogo permanente é a única maneira de impedir a morte de mais milhares de civis e de permitir a entrega de ajuda humanitária crucial. MSF também pede o estabelecimento de um mecanismo independente para supervisionar a entrada de um fluxo adequado de suprimentos humanitários em Gaza 

Um médico de MSF, Dr. Mahmoud Abu Nujaila, escreveu em um quadro de um hospital de Gaza: “Fizemos o possível. Lembrem-se de nós”. MSF está fazendo o máximo ao seu alcance para reduzir o sofrimento causado por essa guerra e clama para que todos os líderes dos Estados-membros do Mercosul façam o seu máximo para interromper o massacre da população palestina!”

A carta é assinada por Renata Reis, diretora-executiva de Médicos Sem Fronteiras no Brasil, e Victoria Ladoire, vice-diretora geral de Médicos Sem Fronteiras América Latina.

A reunião

A defesa da democracia, a busca pela igualdade e o combate ao preconceito e discriminações deram o tom da abertura da Cúpula Social do Mercosul, nesta segunda-feira (4), no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. É a primeira vez que o evento é realizado de forma presencial, depois de sete anos.

Durante dois dias, o encontro reunirá cerca de 300 representantes da sociedade civil de países sul-americanos, além de autoridades, para discutir temas sociais. Os participantes irão produzir quatro relatórios que serão entregues aos líderes de países-membros e associados do Mercosul, que se reunirão na quarta (6) e quinta-feira (7).

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