Caos no Rio de Janeiro, brasileiros comendo prego e a desumanidade em Gaza
No âmbito nacional, chama a atenção de todos o abandono em que se encontra a população da cidade do Rio de Janeiro, vítima da guerra entre milícias que disputam território e da resposta cruel dada por esses grupos civis armados quando um de seus líderes é abatido pelos agentes de segurança. A ação policial que, nesta manhã, resultou na morte do número 2 da milícia comandada por Zinho na zona oeste do Rio teve como revide o caos provocado pelo incêndio de, ao menos, 35 ônibus urbanos e de uma composição de trem que faz o transporte dos cariocas da periferia ao centro da cidade e vice-versa. Caos que levou estudantes a ficarem retidos nas escolas, especialmente as municipais, à espera de alguma segurança para retornarem a seus lares, onde pais aflitos aguardavam sua chegada, impossibilitados de circularem pelas ruas devido ao perigo iminente de serem, de alguma forma, envolvidos nessa disputa escancarada pelo poder. Esse é o meio ambiente em que vive a população, refém das milícias que há décadas ocuparam o espaço em que o Estado, nas suas esferas municipal e estadual, deveria estar presente.
Pânico nas escolas
Para não focar apenas no Rio de Janeiro, a morte de uma aluna numa escola estadual localizada no bairro de Sapopemba, zona leste da capital paulista, chocou a todos. Outros três estudantes ficaram feridos, todos vítimas de disparos feitos por um colega adolescente. O revólver é de propriedade do pai e foi apreendido. O caso está sendo investigado, mas passa a fazer parte da indesejável estatística que registra um aumento assombroso de casos desse tipo, favorecidos pelo fácil acesso a armas de fogo. Consternado, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, declarou que, desde abril deste ano, foram evitados 165 ataques a escolas no estado, que vem contratando psicólogos para dar apoio a professores e alunos e estuda a possibilidade de instalar botão de pânico nas escolas. Ao mesmo tempo, diante do ocorrido, considera a possibilidade de repensar tudo o que vem sendo feito no combate a esse tipo de violência.
Há, no entanto, outras ameaças que rondam o cidadão e as famílias. Ameaças não tão evidentes, invisíveis mesmo, e que seguem seu caminho à luz do dia, diante de todos, tanto nas casas que deveriam legislar em favor da integridade física e mental da população brasileira como em nossas próprias casas.
Pulmões em risco
Uma delas é o Projeto de Lei 5008/2023, de autoria da senadora Soraya Thronicke (Podemos/MS) e que pretende autorizar a produção e a comercialização de cigarros eletrônicos no Brasil. A ciência vem há anos denunciando as nefastas consequências desse hábito à saúde de adolescentes, jovens e adultos, resultando na morte de muitos deles e no surgimento de doenças que tornam as pessoas incapazes para o trabalho e para a vida normal. A Anvisa proíbe a comercialização no país desses substitutos do cigarro comum. Porém, a inexistente fiscalização faz com que a proibição seja motivo de piada. Uma consulta pública está em curso a respeito desse PL que vem na contramão da proteção aos que vivem no Brasil. O Senado Federal está realizando uma consulta pública a respeito. O link para dar seu “Sim” ou seu “Não” à proposta da senadora é este. Para que seu voto seja aceito, é necessário estar logado no site.
Comendo prego
Outra situação que afeta a saúde dos brasileiros – absolutamente invisível – está na alimentação do dia a dia. Os alimentos industrializados podem trazer para a nossa mesa pregos, parafusos, micrometais que se misturam ao produto na linha de produção e que estão à nossa disposição nas prateleiras do comércio. Uma empresa acaba de lançar no mercado brasileiro um detector de metais destinado à indústria de alimentos, plásticos e reciclagem.
A empresa garante que a solução faz um “pente-fino” em toda a linha de produção. É instalado para inspecionar produtos alimentícios na linha de produção, antes ou depois de sua embalagem. Na prática, segundo a mesma empresa, o equipamento consegue identificar contaminantes importantes, como pregos, parafusos e pedaços de metal. Em sua explicação sobre a importância do produto oferecido, a empresa deixa claro que, sem um detector de metais, esse tipo de contaminante indesejado pode chegar à mesa do consumidor, causando problemas à saúde e “dores de cabeça à fabricante”.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), contaminantes em alimento são “agentes biológicos, físicos ou químicos que são introduzidos no alimento de forma não intencional e que podem trazer danos à saúde da população”. As indústrias têm a obrigação de estabelecer meios de controle que evitem que isso ocorra. O fato de a empresa oferecer o equipamento para o mercado nacional é sinal de que os meios de controle atuais precisam ser mais eficazes e que estamos ingerindo esses indesejados “ingredientes” obviamente não discriminados nos rótulos.
Mercúrio nos peixes da Amazônia
Uma outra notícia preocupa especialmente a população da região Norte do país. Estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revela que peixes consumidos nos principais centros urbanos da Amazônia estão contaminados por mercúrio. Os resultados mostram que os peixes de todos os seis estados amazônicos apresentaram níveis de contaminação acima do limite aceitável (maior ou igual a 0,5 microgramas por grama), estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Realizado em parceria com o Greenpeace Brasil, o Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), o Instituto Socioambiental e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Brasil), o estudo indica que os piores índices estão em Roraima, onde 40% dos peixes têm mercúrio acima do limite recomendado, e no Acre, onde o índice é de 35,9%. Já os menores indicadores estão no Pará (15,8%) e no Amapá (11,4%).
“Na média, 21,3% dos peixes comercializados nas localidades e que chegam à mesa das famílias na região Amazônica têm níveis de mercúrio acima dos limites seguros”, destacou a Fiocruz, por meio de nota, ao destacar que, em todas as camadas populacionais analisadas, a ingestão diária de mercúrio excedeu a dose de referência recomendada.
No município citado como mais crítico, Rio Branco, a potencial ingestão de mercúrio ultrapassou de 6,9 a 31,5 vezes a dose de referência indicada pela Agência de Proteção Ambiental do governo norte-americano.
“As mulheres em idade fértil – público mais vulnerável aos efeitos do mercúrio – estariam ingerindo até nove vezes mais mercúrio do que a dose preconizada; enquanto crianças de 2 a 4 anos, até 31 vezes mais do que o aconselhado”, alertou a Fiocruz.
Em Roraima, segundo estado considerado mais crítico, a potencial ingestão de mercúrio extrapolou de 5,9 a 27,2 vezes a dose de referência.
“Considerando os estratos populacionais mais vulneráveis à contaminação, mulheres em idade fértil estariam ingerindo até oito vezes mais mercúrio do que a dose indicada e crianças de 2 a 4 anos, até 27 vezes mais do que o recomendado”.
Uma boa notícia!
A chuva chegou a áreas do estado de Roraima, o que deixa a população esperançosa de que os rios voltarão ao nível normal em breve. A seca não é normal por lá, ao contrário do que acontece na caatinga, onde tudo está seco pelas bandas de Jessiape, na Bahia. A estiagem começou em abril e novas chuvas são esperadas para o final de novembro se estendendo até março do ano que vem. A população de lá considera isso normal. “Quando vem a chuva, em oito dias fica tudo verde”, diz um morador.
Ajuda desumanitária
No âmbito internacional, o conflito entre Israel e o grupo Hamas prossegue em sua flagrante ajuda desumanitária. Ontem, a travessia de Rafah, entre Gaza e o Egito, foi aberta pelo segundo dia consecutivo, permitindo a entrada de outros 14 caminhões transportando alimentos, água e suprimentos médicos, o que é um nada diante das necessidades.
De acordo com os padrões internacionais, cada pessoa deve ter 15 litros de água por dia para viver com saúde e dignidade. Isso inclui água para beber, realizar higiene pessoal, cozinhar etc. Em Gaza, atualmente, as pessoas têm acesso a menos de 3 litros de água/dia.
Outra questão extremamente preocupante: nenhuma gota de combustível entrou na Faixa de Gaza. Sem combustível, não haverá água, nem hospitais, nem padarias funcionando. Philippe Lazzarini, comissário-geral da Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (Unrwa), alerta que, sem combustível, a ajuda não chegará a muitos civis necessitados, não haverá assistência humanitária.
De acordo com informações vindas do Ministério da Saúde de Gaza, desde 7 de outubro, o número de pessoas mortas na Faixa supera 5 mil, sendo 62% delas crianças e mulheres. Mais de mil palestinos são considerados desaparecidos e estima-se que estejam mortos ou presos sob os escombros.
Mesmo nos Estados Unidos, principal aliado de Israel, o fato de terem morrido mais de 1.500 crianças em Gaza, vítimas do intenso bombardeio à região, vem gerando sérias críticas ao modo como o conflito está sendo conduzido pelo governo israelense. Segundo essas críticas, o alto número de crianças palestinas mortas sugere que sejam vistas como vítimas de menor valor, dada sua associação com o Hamas.
Massa x Milei
Mais perto de nós e contrariando as expectativas, o peronista Sergio Massa liderou a votação em primeiro turno realizada ontem e disputará o cargo de presidente de nossos hermanos com Javier Milei no próximo dia 19, quando os argentinos voltam às urnas em segundo turno.
Escritor e jornalista formado pela Universidade de São Paulo, com passagem pelo Diário Comércio e Indústria, pela Revista dos Tribunais, pela Editora Abril e diversos outros órgãos de imprensa, com especialização em extensão rural e jornalismo científico.