Mudança do clima está levando as árvores da Amazônia a ponto crítico
O desmatamento não é o único desafio que a Amazônia deve enfrentar nos próximos anos. A mudança climática já está afetando a capacidade que as árvores têm de realizar fotossíntese, prejudicando a produção de energia e a fixação do carbono da atmosfera. É o que afirma um estudo conduzido por especialistas de diferentes países, com participação de pesquisadores da Universidade de São Paulo.
A análise, feita em conjunto por diversos estudiosos ao longo de 20 anos, foi publicada na revista científica Nature e aponta, com grande preocupação, que o aquecimento global está aproximando a temperatura das copas de árvores de florestas tropicais a um ponto crítico.
Humberto Ribeiro da Rocha, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, explica que a fotossíntese das árvores de florestas tropicais atinge máxima produção entre 24ºC e 28ºC.
No estudo, os pesquisadores mediram a temperatura média das árvores da Amazônia e constataram que elas estavam acima da média de 34ºC e, na copa, chegaram a se aproximar de 40ºC.
Mudança no regime de chuva
Essa elevação na temperatura provoca alterações na estrutura das folhas e interfere no seu funcionamento natural, prejudicando a capacidade de realizar as trocas gasosas com o ambiente e a transpiração. A persistência do calor leva, eventualmente, à morte das folhas. Para o professor, a reação a esse aquecimento em escala de ecossistema será muito mais complexa e impossível de prever.
Os pesquisadores alertam que o aumento da temperatura das árvores é maior do que aquele registrado no ar. Com isso, uma elevação do clima do planeta entre 2°C e 3°C pode aumentar a temperatura nas folhas em até 8º C e levar a um colapso total das florestas.
O risco do aumento de temperatura nas árvores soma-se aos outros alertas sobre as consequências da mudança climática para a Amazônia, como a transformação nos regimes de chuvas e a alteração para um clima regional mais seco.
Neste mês de outubro, a região está enfrentando uma estiagem histórica, com grandes cursos d’água dando lugar a enormes bancos de areia. No dia 10 de outubro, a cidade de Manaus bateu mais um recorde histórico de alta temperatura, com termômetros atingindo 40,0ºC, o dia mais quente desde 1910, quando o Instituto Nacional de Meteorologia iniciou as medições meteorológicas regulares na capital amazonense.
“As árvores são uma parte essencial da resposta do nosso planeta às mudanças climáticas, e as florestas tropicais desempenham um papel fundamental para abrigar a diversidade de espécies e regular o clima do planeta. Se elas forem danificadas pelo aumento das temperaturas, estaremos perdendo uma importante linha de defesa e limitando a capacidade da natureza de mitigar os impactos da atividade humana”, afirma a Dra. Sophie Fauset, professora de Ecologia Terreste da University of Plymouth, que também participou do estudo.
A pesquisa Tropical forests are approaching critical temperature thresholds foi realizada em florestas tropicais na Amazônia, na África e na Ásia combinando dados obtidos por satélite de alta resolução com análises em campo. O estudo foi liderado pelo professor Chris Doughty, da Northern Arizona University, e, além de participação de cientistas da USP, teve contribuições de pesquisadores da França, Reino Unido e Austrália.