Na ONU, Estados Unidos impedem ajuda humanitária à população da Faixa de Gaza
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) rejeitou nesta quarta-feira (18) a proposta apresentada pelo governo brasileiro sobre o conflito envolvendo Israel e o grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza. O texto pedia pausas humanitárias aos ataques entre Israel e o Hamas para permitir o acesso de ajuda aos que estão na Faixa de Gaza. O resultado da votação foi 12 votos a favor, duas abstenções (do Reino Unido e da Rússia) e um voto contrário, dado por Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos Estados Unidos na organização.
A proposta condenava os atos do Hamas contra Israel em 7 de outubro como sendo atos terroristas, apelava para libertação imediata e incondicional de todos os reféns civis e pedia uma pausa no conflito para a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Também exigia o fornecimento contínuo de bens essenciais para a população civil, como artigos médicos, água e alimentos; e pede a rescisão da ordem para que civis e funcionários das Nações Unidas evacuem toda a área em Gaza ao norte de Wadi Gaza.
O texto da diplomacia brasileira seria aprovado não fosse a objeção norte-americana. Por se tratar de um membro permanente, o governo dos EUA, aliado incondicional de Israel, tem o direito de vetar qualquer proposta que não se coadune com a sua visão do cenário da guerra.
A análise da resolução estava inicialmente prevista para o início da semana, mas foi seguidamente adiada até que o governo brasileiro estabeleceu que a mesma seria posta em votação na manhã de hoje, na sede da entidade, em Nova Iorque.
Diante do veto, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou ser preciso aguardar a “evolução dos fatos” para ver se é possível propor um novo projeto de resolução do conflito no âmbito da ONU.
Postura cínica
A organização internacional não governamental de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) divulgou uma nota criticando o veto do governo dos Estados Unidos à resolução negociada pelo Brasil. A entidade classificou a postura dos Estados Unidos como “cínica” no uso do seu poder de veto.
“Mais uma vez, os EUA usaram de forma cínica seu poder de veto para impedir que o Conselho de Segurança da ONU atue em relação a Israel e a Palestina em um momento de violência sem precedentes”, disse a entidade em nota.
A HRW também lembrou que o texto condenava os ataques do grupo islâmico Hamas contra civis em território israelense, algo que os Estados Unidos também defendiam. E foi a ausência desse trecho que fez os EUA rejeitar o texto proposto pela Rússia, dois dias antes.
“Ao fazerem isso, vetaram demandas que eles mesmos insistem, com frequência, em outros contextos, quais sejam: que todas as partes cumpram a lei humanitária internacional e garantam que a ajuda humanitária vital e os serviços essenciais cheguem às pessoas que mais precisam. Eles também vetaram a condenação do ataque de 7 de outubro, realizado pelo Hamas, assim como a exigência de libertação dos reféns”, diz a nota.
Por fim, a organização propõe que a Assembleia Geral da ONU tome medidas sobre o conflito. “Diante do impasse no Conselho, os países membros da ONU deveriam pedir à Assembleia Geral que tome medidas urgentes para proteger os civis e evitar atrocidades em grande escala”.