Estudo identifica quem tende a desenvolver transtorno ligado à autoimagem e à alimentação

Estudo identifica quem tende a desenvolver transtorno ligado à autoimagem e à alimentação
Foto Crédito AllGo/Unsplash

Mulheres, pessoas mais jovens, consumidores de suplementos fitness ou de substâncias farmacológicas para mudar a forma do corpo, adeptos de dietas restritivas, sedentários, pessoas com diagnóstico de obesidade ou sobrepeso e que fazem uma avaliação ruim da própria alimentação. Pessoas que se enquadram nesses perfis são mais propensas a desenvolver transtornos mentais associados à imagem do corpo e à alimentação de acordo com estudo de pesquisadores brasileiros publicado recentemente na revista Environmental Research and Public Health.

O levantamento, conduzido por pesquisadores das universidades Estadual Paulista (Unesp) e Federal de Alfenas (Unifal), recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Segundo os autores, conhecer o perfil dos indivíduos mais vulneráveis a esse tipo de transtorno do corpo pode ajudar no desenvolvimento de estratégias preventivas e de promoção da saúde.

“Há uma preocupação mundial com doenças como diabetes, hipertensão e obesidade, que afetam a saúde da população em grande proporção. Porém, existem outras condições, como os transtornos alimentares, que são subdiagnosticados e desconsiderados, embora também afetem substancialmente a saúde das pessoas. É preciso levar em conta que uma relação ruim com a comida pode anteceder uma série de problemas físicos e mentais”, alerta Wanderson Roberto da Silva, professor da Unifal e coautor do artigo.

Ainda segundo ele, é importante considerar que, embora transtornos como compulsão alimentar, anorexia e bulimia nervosa tenham baixa prevalência na população, podem desencadear problemas sérios. “Eles estão fortemente associados a afetividades negativas, como ansiedade, estresse e depressão, que estão entre os principais desafios em saúde do século 21″, esclarece.

No trabalho, os pesquisadores aplicaram dois questionários para examinar a relação entre “atenção à forma corporal”, “ansiedade física social” e “características pessoais dos participantes”.

Na primeira etapa do estudo, que envolveu 1.750 adultos brasileiros, foi identificado que, quanto mais os indivíduos dão atenção à forma corporal, mais propensos são a esperar uma avaliação negativa de sua forma física. Além disso, tendem a estar menos confortáveis com a apresentação física do corpo.

As características mais comuns entre os que apresentaram níveis elevados de atenção à forma corporal foram: sexo feminino, consumo de suplementos fitness ou de substâncias farmacológicas para mudar a forma corporal e realização frequente de dietas restritivas.

Já entre aqueles que apresentaram maior expectativa de avaliação negativa da forma física, os traços mais comuns foram: sexo feminino, ser considerado um jovem adulto, consumo de substâncias farmacológicas para mudar a forma corporal, sedentarismo, autoavaliação negativa da qualidade da alimentação e presença de sobrepeso ou obesidade.

Os pesquisadores observaram ainda que entre os indivíduos que estavam mais confortáveis com o próprio corpo eram em geral mais velhos, do sexo masculino, sem sobrepeso ou obesidade, não faziam uso de substâncias farmacológicas para modificar a forma corporal, não realizavam dietas restritivas e praticavam atividade física. Além disso, nesse grupo, a autoavaliação da qualidade da alimentação foi mais positiva.

O corpo real

Na segunda etapa do estudo, os pesquisadores avaliaram uma subamostra composta por 286 indivíduos submetidos a teste de bioimpedância, feito em um tipo de balança capaz de medir fatores como o percentual total de gordura, a massa magra e o nível de gordura visceral.

“Com essa análise, observamos que a composição corporal do indivíduo influenciou a percepção em relação à forma física do corpo. As pessoas com maior quantidade de gordura e menor massa muscular foram as mais suscetíveis a problemas”, relata o pesquisador.

De acordo com o estudo, portanto, pessoas que têm uma preocupação excessiva com o corpo, a ponto de isso gerar ansiedade, podem apresentar comportamentos disfuncionais tanto em relação à alimentação quanto ao corpo. “A grande questão do trabalho é destacar que existem características individuais que sugerem maior vulnerabilidade a comportamentos disfuncionais em relação à imagem corporal negativa e alimentação transtornada. É importante prestar atenção a esses comportamentos, pois eles representam a raiz de problemas futuros. Com isso em mente, tem-se a oportunidade de desenvolver ações mais assertivas de prevenção de doenças e promoção da saúde, seja em contexto coletivo ou individual”, diz.

O trabalho foi desenvolvido com foco nos aspectos cognitivos (como a atenção à forma corporal) e afetivos (como a ansiedade gerada quando o corpo é exposto) da imagem corporal. De acordo com o artigo, no contexto da imagem corporal, quando os indivíduos voltam sua atenção para o físico, podem experimentar sentimentos de adequação, mas também de inadequação, que, dependendo da intensidade, podem desencadear transtornos mentais como anorexia ou bulimia nervosa.

Silva explica que essa atenção pode ser entendida como um processamento cognitivo seletivo, em que o indivíduo se concentra intencionalmente em algo específico, ou baseado em estímulos internos e externos. “Nesse processo, a pessoa é consumida por algumas informações enquanto negligencia outras e isso ocorre individualmente, podendo variar de acordo com a intensidade de cada estímulo”, explica.

Segundo o pesquisador, a ansiedade está relacionada com o comportamento alimentar e com a relação que as pessoas têm com a própria imagem corporal. “Isso influencia as ações. Portanto, uma pessoa com um nível alto de ansiedade pode se tornar mais suscetível a ter algum transtorno alimentar, especialmente se possui problemas com a imagem corporal. Pode usar estratégias inadequadas visando mudar a imagem corporal, sem nenhum tipo de supervisão por profissional capacitado, e isso comprometer sua saúde em vez de melhorá-la”, diz.

Entre os exemplos de comportamentos disfuncionais estão a adoção de dietas restritivas ou da moda sem acompanhamento especializado, a prática de exercício físico excessivo sem supervisão e o consumo de suplementos alimentares ou substâncias potencialmente danosas (anabolizantes, por exemplo) sem a devida prescrição. “Como se vê, são várias estratégias que podem desestruturar a vida de um indivíduo em vários aspectos, afetando tanto sua saúde física quanto mental e social”, destaca.

Informações fornecidas pela FAPESP.

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