Zolpidem. Médica alerta para o uso errado do medicamento e suas graves consequências
Divulgações recentes feitas por jovens em suas redes sociais chamaram a atenção para o uso indiscriminado do genérico zolpidem, hipnótico que vem sendo usado para o tratamento da insônia e que pode causar dependência. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o fármaco, comercializado como Stilnox pelo laboratório Sanofi, é indicado para pessoas com insônia ocasional, transitória ou crônica e só pode ser comercializado sob prescrição médica.
De acordo com a dra. Ivete Gianfaldoni Gattás, psiquiatra e professora do curso de Medicina da Faculdade Santa Marcelina, o medicamento é recomendado para adultos (indivíduos maiores de 18 anos) que apresentem diagnóstico de insônia crônica. Atua em receptores cerebrais, aumentando a liberação do GABA (ácido gama amino butírico), que promove uma cascata de eventos que levam à sedação e ao sono, mas tudo isso de maneira muito mais rápida que no sono natural.
Vejam nesta entrevista o que diz Ivete sobre o medicamento que virou moda entre os jovens.
Por que o remédio só deve ser utilizado, no máximo, por quatro semanas?
Porque esse medicamento possui as “qualidades” de dependência e tolerância, ou seja, “vicia“e, com o passar do tempo, você vai precisando de doses cada vez maiores para obter os mesmos efeitos.
Quais são os riscos do uso sem indicação médica do zolpidem e por tempo prolongado?
Os indivíduos que fazem uso desse fármaco podem vir a apresentar efeitos como sonambulismo, amnésia, levando ao risco de comportamentos inadequados e imprevistos. Além da dependência física, podem vir a apresentar dependência emocional do medicamento.
Nas redes sociais, as pessoas têm relatado episódios de alucinações e de tomadas de decisões “loucas’, como compras exorbitantes e conversas das quais elas não se lembram no dia seguinte. Por que isso acontece?
Se o indivíduo ingerir o medicamento e não se deitar, aumenta o risco do “efeito adverso” de sonambulismo e amnésia e não vai registrar adequadamente seus atos, gerando a falta de lembrança deles.
Com a dependência, quais as consequências a longo prazo para a saúde?
Além da dependência emocional, onde os indivíduos passam a acreditar que só conseguirão dormir se tomarem o medicamento, a dependência química do medicamento pode levar a problemas de memória, de raciocínio e de atenção.
Para quem sofre com dificuldades para dormir, quais são os outros motivos por trás da insônia?
Há vários motivos para alguém não conseguir conciliar o sono, ou ter uma qualidade ruim dele. Desde questões ambientais, como barulho, quarto pouco ventilado, luminosidade excessiva, uso excessivo de telas, principalmente antes de dormir. Má higiene do sono; falta de rotinas e horários habituais para dormir e acordar; falta de exercícios físicos; quadros de ansiedade e depressão não tratadas.
Mesmo quando o diagnóstico de insônia crônica é feito, o tratamento principal é a Terapia Cognitivo Comportamental, conduzida por psicólogo especialista em sono. Nessa abordagem são sugeridas mudanças de hábitos, de crenças e perspectivas relacionadas ao quarto, à cama e ao dormir. Quando há a necessidade de terapia medicamentosa, esta precisa estar baseada no uso racional de fármacos e na menor dose possível para se obter o efeito desejado. Neste contexto, o zolpidem é uma das ferramentas coadjuvantes de um processo muito mais complexo no resgate de uma boa noite de sono.