Sociólogos constatam: pesquisadores também têm seus preconceitos e isso não é nada bom para a ciência
Pesquisas realizadas em países como o Brasil, México e Turquia, por exemplo, são sistematicamente negligenciadas pelo meio científico mundial. Em outras palavras, o conhecimento gerado por cientistas desses países não é incorporado à ciência global, e isso interfere e pode até mesmo impedir o crescimento científico de um modo geral. Essa é a conclusão a que chegaram Charles Gomez e colegas, autores do artigo Leading countries in global science increasingly receive more citations than other countries doing similar research, publicado na edição da Nature Human Behavior que circula hoje. De acordo com eles, a comunidade científica tende a citar como referência artigos de pesquisadores de países como os Estados Unidos da América, Reino Unido e China, para mencionar alguns. Essa realidade sugere que há um viés de citação na ciência que pode significar que vozes globalmente diversas são menos propensas a serem ouvidas e reconhecidas. Gomez é sociólogo. Até agosto, ele é professor assistente do departamento de Sociologia no Queens College, na Universidade da Cidade de Nova Iorque.
Em seus artigos, os pesquisadores fazem citações como forma de situar ou confirmar o que estão relatando. Essas citações são detalhadas no final do texto, no tópico Referências. Um artigo que apareça em muitas referências é considerado como “altamente citado” e se destaca entre as produções daquele campo científico.
Gomez e colegas examinaram o texto e as citações de quase 20 milhões de artigos científicos em 150 diferentes campos, publicados entre 1980 e 2012. Eles desenvolveram uma medida que captura a diferença entre o número de citações esperadas num determinado artigo e o número real de citações que o artigo contém. Como resultado, um pequeno número de países (EUA, Reino Unido e China, entre outros) revelou ser o centro da pesquisa científica, sendo os EUA o país mais proeminente em todos os campos. Em outras palavras, os artigos de cientistas deste grupo central eram mais citados do que os de outros países (por exemplo, Brasil, México e Turquia), mesmo que abordassem assuntos semelhantes. Os autores constataram que essa lacuna entre países mais e menos citados cresceu ao longo do tempo.
Imagem em destaque: Pexels
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