Mostra internacional exibe jogo feito por brasileira para ajudar idosos com Alzheimer
Um jogo para idosos com Alzheimer, desenvolvido pela brasileira Lívia Lanzellotti Nishibe, foi um dos projetos selecionados pela Associação Designers de Madrid e pela Fundação Diseño Madrid para participar da sétima edição da Bienal ibero-americana de Diseño (BID), que se encerra amanhã, 20, em Madri, capital da Espanha.
O jogo – que recebeu o nome de Senior Ludens – surgiu para ajudar sua avó. Inicialmente, Lívia comprou um livro de exercícios cognitivos para exercitar o cérebro de sua parente, mas percebeu que a idosa não conseguia realizar as atividades propostas. Então, teve a ideia de simplificar os exercícios e improvisou algo lúdico utilizando papel e canetas. E o resultado foi muito bom.
A jovem percebeu o quanto jogos de estimulação cognitiva podem ser úteis. Ela também notou que havia uma lacuna nessa área, pois o mercado de brinquedos é, em sua maioria, voltado para o público infantil ou jovem adulto e pouca coisa é feita pensando nos idosos. Porém, esse é um grande nicho.
“O projeto começou com o intuito de prover uma ginástica cerebral, ou seja, estímulos cognitivos para desacelerar os sintomas das chamadas demências senis, sendo o Alzheimer um dos tipos delas. O conceito é que os jogos sejam como exercícios para o cérebro, mantendo-o ativo. Isso, a princípio, melhora a autonomia e a qualidade de vida dos idosos. Com o desenrolar do projeto, percebi que o Senior Ludens é uma ferramenta de diversão e interação, acima de tudo. Tornar esse momento da vida mais divertido, tranquilo e acolhedor virou mais prioritário do que o exercício em si. Continua sendo uma forma de terapia e cuidado, mas o objetivo do projeto passou a ser estreitar relações, promover sorrisos, criar afetos”, explica Lívia, formada em Design pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). O Senior Ludens foi o produto que apresentou como seu trabalho de conclusão de curso e a proposta é tão interessante que acabou sendo selecionada para a mostra internacional na Espanha.
A jovem tem planos para aumentar a produção e a distribuição do jogo, que está disponível em seu site, onde é possível encomendá-lo, recebê-lo pronto ou ler as instruções e tentar fazê-lo por conta própria.
“O intuito é que artesãos, marceneiros ou “makers” espalhados pelo Brasil todo possam fazer download dos arquivos, reproduzir e vender por conta própria”, diz Lívia.
Makers
A ação de disponibilizar as instruções na internet faz parte da “cultura maker”, uma iniciativa que visa reduzir o consumo em escala e estimula as pessoas a criar, reparar, alterar objetivos e democratizar os conhecimentos adquiridos. A tecnologia facilita o compartilhamento de informações para criação de diversos tipos de objetos.
Mas alguns projetos precisam de ferramentas específicas, como impressoras 3D. Essas e outras máquinas podem ser encontradas em laboratórios de fabricação, também conhecidos como Fab Labs.
Para criar o seu projeto, Lívia utilizou a rede de Fab Labs pública e gratuita de São Paulo (SP). Na capital paulista, os laboratórios são abertos a todos, as pessoas podem desenvolver projetos pessoais ou coletivos. Na cidade de São Paulo existem 12 Fab Labs, 3 na zona central e 9 nas periferias. Esses laboratórios possuem diversos equipamentos de eletrônica, robótica, marcenaria, mecânica e impressoras 3D, assim como técnicos que auxiliam na criação dos projetos.
Segundo a diretora da rede Fab Lab de São Paulo, Maitê Sanches, o projeto tem como objetivo que os laboratórios interajam com as comunidades onde estão inseridos, sendo um espaço de transformação, interação e inovação.
A BID
A BID existe desde 2008 e, como o próprio nome diz, acontece a cada 2 anos. a Bienal é organizada pela Associação Designers de Madrid e pela Fundação Diseño Madrid. A seleção das peças que compõem a exposição é feita por comitês da BID, compostos por representantes de cada um dos países ibero-americanos que integram a mostra. O Senior Ludens está no catálogo da sétima edição do evento e foi apresentada em painel na exposição madrilenha.
Com informações de Isabela Holl/ACI Unesp. Foto de Lívia Lanzellotti Nishibe.