Estudo compõe perfil de idosos no Brasil vítimas de violência
Estudo realizado na Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) concluiu que a principal violência que os idosos sofrem no Brasil é de natureza física, que a maioria das vítimas de que se tem registro possui de 60 a 69 anos, baixa escolaridade, é de raça/cor da pele não branca e reside na Região Norte do país.
Foram analisadas duas bases de dados do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA), desenvolvidas pelo Ministério da Saúde: o Viva Inquérito e o Sistema de Notificação de Agravos (SINAN). “O primeiro é composto por vítimas atendidas nos serviços selecionados de emergência das capitais e o segundo refere-se às notificações dos serviços de saúde”, explica Fabiana Martins Dias de Andrade, autora do trabalho.
“A Análise de Correspondência Simples mostrou quatro padrões de violência, sendo que, ao se considerar o sexo da vítima, foram relacionadas às violências por força/espancamento e lesão por contusão para o sexo feminino. Para os homens, as relações foram lesão por corte, em via pública, por agressor desconhecido, do sexo masculino, e com suspeita de elevado consumo de álcool”.
Dados
No componente SINAN foram notificados 17.311 casos ou suspeitas de violência contra o idoso. Do total, 50,4% são de raça/cor da pele branca, 42,3% são casadas e 17,2% possuíam deficiência/transtorno. A maioria (76,9%) das ocorrências foi na residência e a violência física foi o tipo principal, responsável por 62,8% das notificações e a violência de repetição foi informada por 49,5%. Em relação ao agressor, 62,0% são homens e 62,8% das violências foram cometidas por dois ou mais agressores.
Os resultados mostram que entre as mulheres, as ocorrências foram principalmente na residência, cometidas por agressor familiar ou companheiro, enquanto as ocorrências entre os homens foram, principalmente, na via pública, cometidas por pessoa desconhecida e com suspeita de consumo de álcool para ambos os componentes. Contudo, conforme a pesquisa, o número de idosas vítimas de violência pode ser mais elevado, pois elas podem ter mais dificuldades para procurar ajuda, devido, sobretudo, às condições de saúde e dependência do agressor”, relata Fabiana.
Ainda de acordo com a pesquisadora, evidenciam-se padrões de violência distintos ao considerar o sexo do idoso, sendo que as idosas, brancas, viúvas, sofreram violências de repetição, principalmente na residência. Já os idosos eram em sua maioria pretos/pardos, casados, e a ocorrência foi mais frequente na via pública. Destaca-se que houve avanços importantes no Sistema VIVA, aumento do número de notificações e melhoria na qualidade dos dados. Entretanto, Fabiana reforça que ainda existem problemas no preenchimento de algumas variáveis, como escolaridade da vítima e suspeita de consumo de álcool.
Denúncias aumentaram
De acordo com os dados das denúncias de violência contra o idoso coletados pelo Disque 100/Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos para o Brasil, foram relatados 41.547 casos de violência no primeiro semestre de 2020. O número de denúncias quase dobrou em relação às 21.749 registradas mesmo período de 2019.
Foto: Pedro Ribeiro Simões Alguns direitos reservados