Fiocruz lança livro sobre saúde mental em tempos de pandemia

Fiocruz lança livro sobre saúde mental em tempos de pandemia

Com uma roda de conversa sobre a obra, a Fiocruz Brasília lançou recentemente o livro Recomendações e orientações em saúde mental e atenção psicossocial na Covid-19, uma coletânea de textos elaborados por mais de 140 pesquisadores do Grupo de Trabalho voluntário com foco na pandemia que assola o país e o mundo desde os primeiros meses de 2020. Dentre os muitos aspectos abordados, a Turismo & Cultura destaca um trecho da publicação em que são transmitidas dicas e orientações para a divulgação de casos de suicídio pelos próprios pesquisadores e também pelos meios de comunicação.

A responsabilidade que cabe aos comunicadores

“A divulgação nas mídias (especializadas ou nas redes sociais) de reportagens inadequadas e fotos sobre suicídio, bem como cartas de despedida, devem ser feitas com responsabilidade e cuidado, pois podem provocar um efeito negativo (SCAVACINI, 2018), especialmente em momentos de vulnerabilidade como o de pandemia.

1) O efeito “Werther”: refere-se ao aumento de casos de suicídio após reportagens sensacionalistas ou que mostrem com detalhes o suicídio de alguém (PHILIPS, 1974). Diversos estudos confirmam que há uma relação entre a divulgação inadequada de suicídios e o aumento de casos.

2) O efeito “Papageno”: refere-se ao contrário, quando reportagens responsáveis podem diminuir o comportamento suicida no público, fornecendo exemplos de outras pessoas, que conseguiram superar crises suicidas, enfatizando alternativas ao ato, educando o público e gerando conscientização. (NIEDERKROTENTHALER et al., 2010; PIRKIS et al., 2016). Portanto, a divulgação adequada de informações voltadas para a prevenção é recomendada.

Recomenda-se não utilizar a expressão “cometeu suicídio” uma vez que a expressão remete a um crime, sugere-se utilizar a expressão “morreu por suicídio”. Detalhes como estes podem fazer toda a diferença na sua comunicação.

Apresenta-se, a seguir, um resumo das melhores práticas segundo a Cartilha da OMS (2017), do Ministério da Saúde (2017), do Instituto Vita Alere (2019) e da Orygen (2018).

O que NÃO fazer

• Não destacar esse tipo de notícia (por exemplo, colocando na primeira página);
• Não divulgar o lugar, a carta de despedida e o método utilizado no suicídio;
• Não colocar o suicídio como resultado único da pandemia;
• Jamais compartilhar fotos ou vídeos de um suicídio;
• Não romantizar ou falar como se fosse legal, um ato corajoso ou de covardia;
• Não relacionar o suicídio com crime, loucura ou falta de fé;
• Não colocar o suicídio como bem sucedido ou dar a entender que a pessoa encontrou a paz;
• Não determinar um culpado ou um único motivo;
• Não julgar, não fazer piadas ou estigmatizar;
• Não mostrar o suicídio como uma saída.

O que fazer

• Compreender que o suicídio é complexo e multifatorial;
• Sensibilizar as pessoas para o tema, gerando empatia;
• Informar sempre onde buscar ajuda;
• Lembrar dos que ficaram e respeitar o luto;
• Usar e divulgar fontes de informação confiáveis;
• Interpretar de forma cuidadosa e correta as estatísticas;
• Ter um cuidado extra ao se tratar de suicídio de celebridades;
• Se possível, falar das possíveis consequências físicas no caso de tentativas de suicídio não fatais;
• Abordar os sinais de risco e alerta (mas sem reducionismos – identificar o risco pode ser algo complicado);
• Mostrar que existe tratamento e que há outras alternativas ao suicídio.

De acordo com Scavacini (2018, p. 210), existem 6Cs necessários para aumentar a conscientização, diminuir o estigma e prevenir o suicídio:

• Conscientização (awareness) para as pessoas perceberem e saberem que o suicídio existe e que é um problema de todos;
• Campanhas para ajudar na conscientização e divulgação da problemática do suicídio;
• Capacitação para ensinar as pessoas e os profissionais como lidar e tratar do suicídio;
• Competência (literacy) para saber quando e como usar esse conhecimento para a pessoa com comportamento suicida e as pessoas próximas;
• Conversa para incentivar o diálogo e a possibilidade de falar abertamente sobre o suicídio;
• Conexão (connectedness) saudável entre pessoas, familiares, organizações, comunidades e grupos para perceberem que há pessoas que se importam com a questão, assim, unindo forças na prevenção do suicídio.

Na dúvida, sempre confirmar se o que está sendo divulgado ainda é relevante para o atual momento da pandemia, uma vez que esse tipo de fenômeno é mutável/está em transformação, de acordo com a constante atualização de informações.

Onde encontrar ajuda

Existem diversos grupos de apoio e suporte ao luto por suicídio espalhados no Brasil, além de psicólogos especializados. Busque por alguma iniciativa em sua região, você pode consultar o site www.posvencaodosuicidio.com.br. Se quiser conversar com alguém e obter suporte emocional, entre em contato com o CVV no número 188 ou através do site: www.cvv.org.br. O mapa da saúde mental traz uma lista de locais de atendimento voluntário on-line e presencial em todo o país no www.mapasaudemental.com.br. Conheça as ferramentas de denúncia das plataformas virtuais e seja ativo caso perceba alguns desses sintomas ou veja algum conteúdo impróprio nas redes (SCAVACINI, GUEDES, CACCIACARRO, 2019).”

Interessados podem acessar gratuitamente o livro aqui.

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